domingo, 26 de abril de 2020

JAIR BOLSONARO: EX-DEPUTADO FEDERAL OU EX-CAPITÃO DO EXÉRCITO?

Moro não renunciou por egocentrismo. Nem traiu Bolsonaro. Essas afirmações são, no mínimo, caluniosas, mal-intencionadas, e uma deturpação abjeta dos fatos . Ele renunciou, como os juízes e promotores do Brasil sabem, porque se manteve fiel aos seus princípios republicanos de combate à corrupção e ao crime organizado, crimes pelos quais estão sendo investigados o senador Flávio Bolsonaro, o deputado federal Eduardo Bolsonaro, e o vereador Carlos Bolsonaro, os três filhos do Presidente com cargos eletivos. O ex-juiz e ex-ministro Sérgio Moro, responsável pela maior operação anti-corrupção deflagrada no planeta não poderia nunca manchar seu passado glorioso de luta implacável contra a corrupção e o crime organizado para blindar os filhos de quem quer que seja, e muito menos do Presidente da República, do qual ele era seu principal ministro.

A mudança do Diretor Geral da Policia Federal, na qual o Presidente vem insistindo desde setembro do ano passado, tem como objetivo colocar no seu lugar um amigo da família Bolsonaro, o que levanta a possibilidade de interferência nas investigações sensíveis ao presidente e assim provocar o arquivamento dos inquéritos em andamento. Além de alumas investigações que anda não tiveram solução, como é o caso da morte de Marielle Franco, onde existem várias "coincidências" que essas sim precisam ser investigadas a fundo. 

"Prezada, eu não estou a venda". Essa foi a resposta de Moro para a deputada Carla Zambelli, quando lhe ofereceu a próxima vaga no STF em troca da aceitação do nome de Ramagem, amigo íntimo da família Bolsonaro, para o cargo de Diretor Geral da Policia Federal. Conto com os dedos da mão direita  homens públicos do primeiro escalão que dariam essa resposta. Está gravado no celular dele. Para os brasileiros que sonham com um Brasil sem corrupção e livre da hidra do crime organizado, o ex-ministro Sergio Moro sai mais fortalecido e respeitado do que nunca.

Para os que tem a capacidade e uma isenta intenção de projetar o futuro, uma das leituras do discurso de "resposta" às declarações do ex-ministro Sérgio Moro é a de que o Presidente Bolsonaro dificilmente escapará do impeachment, tarde ou cedo.Sua única possibilidade de salvação é uma aliança aberta e escancarada, com farta distribuição de cargos do primeiro, segundo e terceiro escalão, com os que nunca deixaram de ser seu aliados ao longo dos seus 27 anos de carreira política como deputado federal. Seus futuros-ex aliados, como eu já tinha previsto em 29/10/2018 na minha matéria “'As Lideranças Corruptas Dos Principais Partidos Continuam no Congresso e Bolsonaro Não É Um Super-Herói” (blogdojlg.blogspot.com), serão, entre outros, os mais de 200 deputados, muitos investigados por corrupção, que vão compor a futura base do Governo. E para fazer alianças com eles, Bolsonaro tem lastro de sobra. Ao longo dos seus 27 anos de carreira política, cumpriu sete mandatos como deputado federal e foi filiado a nove partidos políticos: PDC, (1989-1993) PP, (1993), PPR, (1993-1995), PPB, (1995-2003), PTB (2003-2005); PFL, (2005); PP, (2005-2016), PSC (2016-2018), e PSL, (2018). Só faltou o PT. Como integrante do "baixo clero" durante 27 anos de vida política, ele é um dos grandes ícones do fisiologismo politico que imperou no Brasil desde o fim da ditadura militar. Com esse currículo, seria Bolsonaro o político que iria implantar a "nova política"?

A ruptura do ex-ministro Sergio Moro com Bolsonaro pode ser de uma gravidade que vai muito além da troca de um Diretor Geral da Policia Federal. Pode ter como pano de fundo um processo que lentamente vai se desenhando no futuro do Brasil: a militarização do Poder Excecutivo. A cada baixa que ocorre no alto escalão do Poder Executivo, um militar é chamado para ocupar o cargo. Aí o cenário muda completamente de figura. É publico e notório que existe um grupo de militares de alta patente muito descontentes com a atuação do Poder Legislativo e do Poder Judiciário nos últimos anos, alguns dos quais expressaram publicamente seu descontentamento, inclusive fazendo ameaças veladas. Bolsonaro se tornou muito popular entre seus colegas de farda em 1986, quando escreveu um artigo para a revista Veja no qual criticava os baixos salários de oficiais militares. Por causa disso, foi preso por quinze dias, embora tenha recebido cartas de apoio de dezenas de colegas do exército. Foi absolvido dois anos depois. Assim, a relação do Bolsonaro com boa parte de seus colegas de farda foi sempre muito boa. Mais ainda, desde que assumiu o cargo, Bolsonaro fez questão de fortalecer e aumentar a participação de integrantes das Forças Armadas no seu governo, além de procurar, sempre que surgiu a oportunidade, associar a sua imagem à imagem das Forcas Armadas. Os crescentes ataques, nada republicanos, do Presidente Bolsonaro contra atos do Poder Legislativo e do Poder Judiciário estão certamente em concordância com o que pensa esse grupo das Forcas Armadas descontentes com a atuação desses dois poderes durante os governos petistas. Pode ser que o slogan "o Brasil acima de todos e Deus acima de tudo" consista em lotar os postos-chave do Poder Excecutivo de militares e depois, quando surgirem confrontos insolúveis entre Bolsonaro e o Poder Legislativo ou o Poder Judiciário... bem, nós já vimos essa historia antes. Afinal, "para fechar o STF basta um soldado e um cabo".

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