Nem o mais fanático
dos cariocas podia imaginar há sete anos atrás que o Rio de Janeiro seria capaz
de realizar as mais fantásticas Olimpíadas da Era Moderna. A começar pela Vila
Olímpica construída na Barra da Tijuca, um complexo de 7 condomínios e 31
edifícios composto por 3.604 apartamentos com capacidade para receber 17.950
atletas, além dos outros profissionais das delegações. O empreendimento tem
10.000 metros cúbicos de telhados verdes, que reduzem a sensação térmica, e
conta com 75 placas solares para aquecimento da água e uma estação de
tratamento permite ainda que a água que é usada para lavar as mãos e tomar
banho seja reutilizada em vasos sanitários e na irrigação, gerando economia de
cerca de 40% no consumo. Após o encerramento das Paraolimpíadas, a Vila
Olímpica se transformará num bairro totalmente planejado e baseado no principio
da sustentabilidade, se chamará Ilha Pura, e os apartamentos serão comercializados para
moradores comuns. O projeto contempla a construção de um parque público com 72
mil metros quadrados no centro do bairro, desenvolvido de forma a favorecer que
as pessoas realizem as atividades do dia a dia caminhando ou de bicicleta. A
implantação de um centro comercial no bairro e a presença de mais de quatro
quilômetros de ciclovias dentro do parque devem estimular os moradores a
evitarem o uso do carro. Todos os condomínios ainda terão estrutura completa de
clube em suas áreas comuns, oferecendo piscinas com raias para natação, sauna e
academia, entre outras instalações.
Para viabilizar a Vila Olímpica na Barra da Tijuca foi necessário
construir a linha 4 do Metrô, unindo os bairros de Ipanema, Leblon, Gávea e São
Conrado à Barra da Tijuca, num percurso de 16 quilômetros percorrido em apenas
13 minutos. A nova linha do Metrô do Rio de Janeiro vai transportar, mais de
300 mil pessoas por dia e retirar das ruas cerca de 2 mil veículos por
hora/pico. Com a nova linha, o passageiro poderá utilizar todo o sistema
metroviário da cidade com uma única tarifa e ir da Barra da Tijuca ao Centro em
34 minutos. Segundo a Fundação Getúlio Vargas, a Linha 4 do Metrô irá gerar uma
economia anual de R$ 883 milhões com a redução de pelo menos uma hora no tempo
de deslocamento, em congestionamentos entre a Barra da Tijuca e a Zona Sul.
Esse é um projeto que saiu do papel e se tornou uma realidade após 30 anos
graças às Olimpíadas.
Outra obra monumental foi o Boulevard Olímpico, o maior "live
site" da história dos Jogos Olímpicos. O Boulevard Olímpico foi um projeto
concebido para aqueles que não conseguiram ou não puderam adquirir ingressos
para assistir aos Jogos Olímpicos. Na realidade foram três Boulevard Olímpicos:
um na Zona Portuária, totalmente remodelada, outro no bairro de Madureira e
outro em Campo Grande. A Riotur calcula que mais de quatro milhões de pessoas
visitaram o Boulevard Olímpico durante os Jogos Olímpicos. Nesses locais, o
público pôde assistir às principais provas olímpicas em telões de alta
definição, localizados em palcos que tiveram uma programação diária de shows,
além de conferir uma série de apresentações de artistas de rua e outras
intervenções culturais, tudo de graça. Dos três Boulevard Olímpicos, o mais
visitado foi o da Zona Portuária, com 3,2 quilômetros de extensão, instalado
entre a Praça XV e o AquaRio e com novos e antigos atrativos, tais como o Museu
do Amanhã, o Museu de Arte do Rio (MAR) e a Cidade do Samba. É lá também ficou
a Pira Olímpica acesa durante toda a Olimpíada, dentro do Boulevard, logo em
frente à Igreja da Candelária. Essa foi mais uma ideia inovadora para tornar as
Olimpíadas mais democráticas e acessíveis ao público que não pôde pagar os
ingressos.
Mas de todos os legados das Olimpíadas do Rio de Janeiro, o mais
charmoso e sofisticado é o VLT (Veículo Leve Sobre Trilhos). O VLT, em seu
projeto completo, consiste em um sistema de seis linhas e 42 estações de trens
leves que unem diversos pontos do Centro da cidade e que quando estiverem em
pleno funcionamento deverão reduzir em 66% o volume de ônibus(3.500 ônibus) e
em 15% o volume de carros que circulam pelo Centro da cidade. É um dos
primeiros VLT do mundo a não utilizar cabos aéreos, já que o abastecimento
energético do VLT se dá por meio de um sistema único que consiste na combinação
de um terceiro trilho, localizado nas paradas e em certos trechos da linha, e
de um supercapacitor que utiliza a energia produzida em cada frenagem que, ao
ser armazenada, impulsiona os trens do sistema. Tal sistema alimentador gera
segurança e principalmente mais economia, além de prescindir da utilização de
fios aéreos. O VLT coloca o Rio de Janeiro no nível de cidades tais como
Barcelona, Cingapura, Reims, Sevilha, entre outras. Para as Olimpíadas foi
inaugurada a Linha 1 do VLT, que une a Rodoviária Novo Rio ao Aeroporto Santos
Dumont. Confesso que quando entrei pela primeira vez no VLT na Rodoviária Novo
Rio me senti como uma criança no trem elétrico do Parque de Diversões. Tudo
automático, as portas são abertas pelo próprio passageiro e não tem cobradores.
A viagem começou lentamente por entre os armazéns da Zona Portuária, passando
pela Cidade do Samba e percorrendo toda a extensão do Boulevard Olímpico até a
Praça Mauá. A partir daí, pega a Avenida Rio Branco e percorre o coração do
Centro, com paradas no Largo da Carioca e na Cinelândia, áreas totalmente
remodeladas e onde não há mais trânsito de veículos, apenas de pedestres. O
percurso acaba no Aeroporto Santos Dumont, ampliado e modernizado para as
Olimpíadas, e os anexos inaugurados no final do ano passado, o Bossa Nova Mall
(uma homenagem à Bossa Nova), um shopping com 1400 metros quadrados, e o
Prodigy Hotel Santos Dumont, com 290 quartos e um centro de convenções com
capacidade para 800 pessoas.O hotel também conta com lobby bar, três
restaurantes, sendo um deles com uma varanda ao ar livre com direito a uma
vista panorâmica da Marina da Gloria, Urca, Pão de Açúcar, Cristo Redentor,
etc. Enfim, o percurso da Linha 1 do VLT é uma viagem mágica pelo coração da
Cidade Maravilhosa que deixa absolutamente encantados tanto aos cariocas como
aos turistas.
Não poderia concluir esta matéria sem mencionar o deslumbrante
espetáculo visual que foi a cerimônia de encerramento dos Jogos Olímpicos do
Rio de Janeiro, que pode se resumir numa única frase: o Maracanã virou a
Sapucaí. No final, assistimos ai um verdadeiro mini-desfile de Escolas de Samba
no melhor estilo carnavalesco, como só o Rio de Janeiro poderia realizar.
Assim, fiquei convencido de que a decisão de remodelar o Maracanã, apesar de
custar mais caro do que construir um novo estádio, foi acertada. O mesmo Maracanã
que foi o palco onde ocorreu a tragédia de 1950, quando o Brasil perdeu a Copa
do Mundo para Uruguai, agora foi o palco onde o Brasil ganhou sua primeira
medalha de ouro Olímpica no futebol e o palco das mais espetaculares cerimônias
de abertura e de encerramento dos Jogos Olímpicos da Era Moderna. Desta vez foi
bom não seguir o exemplo dos ingleses que demoliram Wembley, o mais sagrado templo do futebol dos ingleses, e talvez do mundo.
Portanto, eu não tenho nenhuma dúvida de que as Olimpíadas do Rio de
Janeiro representam um divisor de águas para a Cidade Maravilhosa, que
certamente fortaleceu consideravelmente seu status no mercado turístico
internacional como a mais bonita, charmosa e acolhedora cidade turística da
America Latina. Os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro receberam a maior
cobertura jornalística da história, pois, em comparação à Londres 2012, a
cobertura de TV aumentou em 25%, com 125 mil horas de cobertura, das quais 81.5
mil horas de cobertura digital. Significa 2,5 vezes a mais do que o oferecido
em Londres. A audiência online da NBC durante os Jogos Olímpicos foi de mais de
2 bilhões de minutos via streaming. Ela é maior do que o consumo online das
ultimas cinco olimpíadas juntas. Assim, foram mais de 3,5 bilhões de pessoas
que assistiram no mundo inteiro aos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro e que,
certamente, lá no íntimo, desejariam ter estado aqui.
E a mim cabe agradecer aos deuses do Olímpio por ter me dado a
oportunidade de poder participar de tudo isso em vivo e a cores.