sábado, 13 de fevereiro de 2021

TRIBUTO AO REI: ELVIS (Está mais vivo do que nunca)

Hoje acordei com saudade do Elvis. Após o café da manhã (por volta do meio-dia) procurei na minha cdteca e escolhi o DVD "Aloha From Hawaii, Live in Honolulu, 1973". Foi o primeiro show de música ao vivo via satélite e se tornou a maior audiência da história televisiva americana até então, superando a audiência da ida do homem à lua, estimada em mais de 1 bilhão e meio de espectadores. Com a digitalização e as fantásticas torres de som da Sony, hoje é como assistir ao show ao vivo. E após 43 anos da gravação, constatei um fato impressionante: Elvis interpreta cada vez melhor. Sim, porque ele não apenas cantava com aquela maravilhosa voz de barítono/tenor (50 vozes), como que também desenvolvia uma coreografia e uma representação teatral de acordo com cada música. De acordo com Henry Pleasants, autor do livro Os Grandes Cantores Populares Americanos: “A voz (de Elvis) cobre duas oitavas e uma terceira, que vai desde o tom de barítono grave Sol até ao tom agudo de tenor Si, com uma extensão em falsete até, pelo menos, um Ré plano. A melhor oitava de Presley situa-se no meio, de Ré plano para Ré plano, concedendo um passo extra completo, quer seja para cima ou para baixo. Chamemos-lhe um barítono alto. Em It’s Now or Never (1960), ele termina com uma cadência vocal completa (La, Sol, Fá) que não tem nada a ver com os mecanismos vocais do R&B e do Country. Aquela nota de Lá é atingida mesmo no nariz, e é apresentada de forma menos espantosa apenas pelo número de canções em que ele consegue apresentar de forma muito fácil e precisa notas Si plano. Para além de tudo isto, ele não se confinou apenas a um tipo de produção vocal. Em baladas e canções de country, ele canta em tom de Sol e Lá de voz cheia, que faz qualquer barítono de ópera ficar verde de inveja. Também é um estilista naturalmente assimilativo, com uma multiplicidade de vozes – de fato, Elvis é uma voz extraordinária de muitas vozes.”

A performance começava pelos macacões (jumpsuits) exóticos que em qualquer outro artista ficariam ridículos, mas que no caso de Elvis o elevavam à categoria de rei do palco. Desde os primeiros acordes sua presença magnética e carismática hipnotizava uma audiência de fãs incondicionais e admiradores do seu talento absoluto. Hoje eu percebo que eles estavam assistindo uma apresentação histórica de um artista único. A partir da tradicional abertura “Also Sprach Zarathustra”, Elvis interpreta 24 canções de diversos gêneros musicais, que vão desde o velho e tradicional Rock’n’Roll (Johnny B. Goode, Blue Suede Shoes, Hound Dog, Long Tall Sally, Lota-ta Shakin’ Goin’ On) até o Rock (CC Ryder, Burning Love, You Gave me a Mountain), passando pelo Country (Love me, Suspicious Minds, I’m so Lonely I Could Cry), Blues (Stream Roller Blues), Baladas Románticas (Something, My Way, I Can’t Stop Loving You, It’s Over, What Now my Love, Fever, Welcome to my World, I’ll Remember You, I Can’t Help Falling in Love with You), Gospel (Amazing Grace), e Hinos Folk (American Trilogy: Dixie, The Battle Hymn of the Republic e All my Trials). O mais impressionante é que, fora o gênero Rock’n”Roll, do qual Elvis é indiscutivelmente o ícone máximo, a maioria das outras músicas foram popularizadas por cantores do quilate de Frank Sinatra, George Harrison, James Taylor, Ray Charles, Carole King, entre outros, porém Elvis consegue interpretações absolutamente pessoais que levam sua marca musical e que em nada lembram as interpretações originais. Na verdade parece que todas as músicas foram compostas e arranjadas pelo próprio Elvis.

O gênio musical de Elvis fica mais em evidência ainda quando analisamos seus grupos musicais de apoio. Em primeiro lugar o grupo vocal masculino, J. D. Summer e The Stamps Quartet. Elvis era absolutamente alucinado pelos tons graves e J. D. Summer, cantor gospel, entrou para o Guinness Book por ter uma das vozes mais graves do mundo. Eles se conheceram quando Elvis tinha dez anos de idade e ficaram amigos até a morte de Elvis. J. D. Summer e The Stamps Quarter cantaram no funeral de Elvis. Elvis contratou J. D. Summer and The Stamps como seu grupo de apoio em tempo integral no final de 1971. Em segundo lugar o fantástico grupo vocal feminino Sweet Inspirations, fundado por Emily "Cissy" Houston, a mãe de Whitney Houston, e do qual Dionne Warwick participou no início da década de 60. Em terceiro lugar, a participação da soprano Kathy Westmoreland para cantar as notas mais altas. Elvis Presley gravou e excursionou com J. D. Summer e The Stamps, com o grupo vocal feminino Sweet Inspirations e com Kathy Westmoreland pelo resto de sua vida. Todos eles foram essenciais para criar a identidade musical de Elvis. Dos integrantes da banda, a participação fundamental do virtuoso “lead guitar”James Burton com quem Elvis brinca com admiração durante todo o show. Enfim, são 56:40 de pura emoção, êxtase e prazer. É de se lamentar, mas sua morte física prematura nós faz lembrar dele para sempre cheio de vida e no ápice de sua carreira musical. Assim, sua presença está mais viva do que nunca.

No dia 16 de agosto de 1977, eu estava voltando do escritório para casa quando escutei a notícia de sua morte. Chegando em casa chamei meu filho, Jorgito, na época com 8 anos,(agora está com 51 anos) e lhe comuniquei que Elvis tinha morrido. Levou alguns segundos para entender o que tinha acontecido e quando caiu a ficha começou a chorar desconsoladamente durante 30 minutos sem parar. Levou uma semana para se recuperar da perda. Acredito que tenha sido a pior noticia que ele recebeu na infância. Esse era o efeito Elvis Presley.