segunda-feira, 14 de março de 2022

UM CONTO DE FADAS QUE SE TORNOU REALIDADE

Eu sou fã de carteirinha de Rod Stewart. Não só pelo fato de ser um dos maiores cantores e compositores de rock e pop de todos os tempos, como também pela sua personalidade carismática e sua sensibilidade musical. O timbre áspero e rouco de sua voz o torna um intérprete único, absolutamente impossível de ser imitado. E seu sucesso musical é simplesmente impressionante, principalmente no Reino Unido: 1º lugar com seis álbuns, 24 vezes entre os top 10, e seis vezes como número 1 entre as músicas mais executadas, nove vezes número 1 a nível mundial. Sir Rod Stewart já vendeu 265 milhões de álbuns desde o início de sua carreira.

“I Don’t Want To Talk About It” é uma belíssima balada triste e melancólica escrita em 1971 por Danny Whitten, guitarrista e vocalista da banda Crazy Horse que estava na maior depressão por causa de sua dependência de drogas. Considerada por muitos críticos como uma das maiores baladas de todos os tempos foi gravada pela banda sem fazer quase nenhum sucesso. Danny Whitten morreu em 1972, poucos meses depois da gravação, em consequência de uma overdose. Em 1975, Rod incluiu a balada no álbum Atlantic Crossing, estourando nos rádios com vários sucessos, entre eles “Sailing” e “This Old Heart Of Mine”. Até então, a balada “I Don't Want To Talk About It” continuava em segundo plano, sem tanta repercussão por parte do público e da mídia na época. No entanto, nos shows de Natal que Stewart realizou em Londres naquele ano de 1975, ele ficou surpreso quando seus fãs começaram a cantar o refrão “I Don't Want To Talk About It” junto com ele. Por causa do sucesso observado nos shows, a gravadora de Stewart decidiu lançá-la como single. Como muitos de seus fãs já tinham comprado Atlantic Crossing, a estratégia da gravadora foi pegar a música “The First Cut Is The Deepest” ( uma cover da canção de Cat Stevens) e incluí-la no lado B do single. O resultado foi um sucesso avassalador de “I Don't Want To Talk About It”, que logo alcançou o primeiro lugar das paradas musicais do Reino Unido em 1976, ficando nesta posição por 4 semanas consecutivas. Atualmente, “I Don’t Want To Talk About It” é a música mais tocada de Rod Stewart no Youtube Brasil.

No outono de 2004, Rod Stewart estava entrando numa estação de Metrô em Glasgow quando ouviu uma voz doce e meiga de uma moça cantando com um violão para ganhar uns trocados. Aproximou-se e de imediato ficou encantado com o rosto bonito e o sorriso amplo e tímido da jovem cantora. Não teve dúvida. A convidou para cantar uma música com ele no concerto que estava preparando para sua primeira apresentação no Royal Albert Hall, famoso e seleto salão de espetáculos situado em South Kensington, Londres, inaugurado em 29 de março de 1871 pela Rainha Vitoria em memória do seu falecido consorte Alberto de Saxe-Coburgo-Gota. A música que Rod Stewart tinha em mente para cantar em dueto era “I Don´t Want To Talk About It”. A cantora desconhecida da estação do metrô de Glasgow chamava-se Amy Belle.

O concerto aconteceu em outubro de 2004. É de se imaginar o espanto e a apreensão de toda a equipe de apoio de Rod Stewart, produtores, supervisores, os músicos da sua banda, os backing vocals, o diretor e os 60 músicos da BBC Concert Orchestra, os integrantes do London Community Gospel Choir, e todos os outros músicos convidados que participaram do evento, entre eles Ron Wood, o icônico guitarrista dos Rolling Stones, velho amigo e parceiro de Stewart no início de suas respectivas carreiras, pela ousadia de convidar uma cantora de rua, que nunca tinha se apresentado em nenhuma casa de espetáculos, para cantar pela primeira vez em publico no Royal Albert Hall. O concerto incluiu 17 músicas e se dividiu em três partes. Na primeira parte ele cantou 9 dos seus grandes sucessos . Na segunda parte ele colocou um smoking e cantou 6 clássicos da música americana que fazem parte de sua coletânea American Songbook (quatro CD’s). A terceira parte, composta por quatro grandes sucessos, começou com a balada “I Don´t Want to Talk About It” em dueto com Amy Belle, seguida por Maggie May/Gasoline Alley com Ron Wood e o “hino” Sailing.

Suaves acordes de um violão elétrico fazem a introdução e Rod Stewart começa cantando os dois primeiros versos de “I Don’t Want To Talk About It”. A tensão de Amy é visível. Ela se prepara para entrar com o refrão e um silêncio reina na plateia. Rod Stewart fica de costas, tal vez para ela não ficar mais nervosa, e ela entra com perfeição. Na segunda parte do refrão Rod Stewart se vira para ela e grita aprovando a nota baixa no final dele. No terceiro e quarto versos a descontração já é evidente e Rod Stewart acompanha cantando baixinho e aprovando com a cabeça. No final da estrofe o público explode em assobios, gritos e aplausos e Amy abre um grande e longo sorriso. Em exatamente 1 minuto e 30 segundos ela conquistou um público que nunca tinha ouvido ela cantar.

Na segunda estrofe a descontração de Rod Stewart já é evidente e faz várias “gracinhas”. Quando Amy entra com o refrão a plateia já canta efusivamente junto com ela. Depois da segunda estrofe entra o fantástico solo de saxo alto da Katja Rieckermann. Durante o solo, Rod Stewart, que está numa ponta do palco, olha para Amy que está na outra ponta do palco e ambos caminham um em direção ao outro para um abraço carinhoso. Ela encosta a cabeça no ombro dele. Quando Katja completa seu maravilhoso solo, Rod sinaliza discretamente e os músicos param de tocar para ouvir o público em pé cantando o refrão à capela. Rod Stewart olha encantado para a plateia e para Amy que, visivelmente emocionada,  parece não acreditar no que está acontecendo.

Por fim, Amy canta os últimos três versos da música e o público eufórico bate palmas, grita, assobia enquanto Rod Stewart repete o nome dela: “Amy Belle, Amy Belle”. Ela sorri encabulada e se dirige a ele dando lhe um forte abraço de agradecimento. Da estação de metrô em Glasgow para uma apoteótica aclamação do público britânico no Royal Albert Hall em exatamente 4 minutos e 29 segundos.

Abaixo, o link para assistir ao momento mais importante na vida profissional da cantora Amy Belle.