sábado, 1 de outubro de 2022

COMO ESCOLHER SEU CANDIDATO A PRESIDENTE DA REPÚBLICA, GOVERNADOR, SENADOR, DEPUTADO FEDERAL, DEPUTADO ESTADUAL E DEPUTADO DISTRITAL NO PRÓXIMO DOMINGO (02/10/2022)

Nunca antes desde a chamada “redemocratização” do Brasil, a população esteve tão mobilizada em torno das eleições gerais de 2022. E estas eleições gerais serão certamente o maior teste para a solidez e consequente permanência do Estado Democrático de Direito no Brasil. O Estado Democrático de Direito no Brasil foi severamente atacado, desmoralizado e desrespeitado em inúmeras ocasiones nestes últimos quatro anos. O que está em jogo não é simplesmente a eleição de 1 presidente da República, 27 governadores, 27 senadores, 513 deputados federais, 1.035 deputados estaduais e 24 deputados distritais. O que está em jogo é a continuidade do Estado Democrático de Direito como sistema de governo ou a volta à ditadura, disfarçada ou explícita, no Brasil. Simples assim. Portanto, esta é uma grande oportunidade para praticar o mais sagrado direito do cidadão numa democracia que é a de realizar o chamado “voto consciente”.

Mas, o que é "voto consciente"? O voto consciente é aquele realizado pelo cidadão que tem a convicção da importância do exercício democrático de votar num candidato ou candidata que julgue ser o melhor para governar e legislar em prol do bem-estar da sua comunidade. O voto consciente implica, em primeiríssimo lugar, na escolha pessoal e intransferível, sem a interferência de segundos nem terceiros, de um candidato ou candidata pelas suas qualidades éticas e morais e pela sua capacitação em alguma atividade profissional que possa ajudar a administrar e melhorar às condições do povo brasileiro e da Nação. O voto consciente não deve ter nenhuma outra motivação pessoal, a não ser a de escolher o candidato certo através do mais completo possível conhecimento de sua ficha eleitoral.

Por isso mesmo, para realizar a escolha do candidato politicamente correto é necessário conhecer o seu perfil, com o maior número de informações possíveis, incluindo:

a) Dados Pessoais: nome, idade, sexo, estado civil, escolaridade, ocupação e partido político ao qual pertence.

b) Lista de Bens: Ativos Financeiros (Contas Correntes, Cadernetas de Poupança, Investimentos, Contas no Exterior, Ações, Participação em Empresas, etc.), Bens Imóveis (Terrenos, Casas, Apartamentos, Lojas, etc.) e Bens Móveis (Automóveis, Lanchas, Jet Ski, Aviões, etc.).

c) Certidões Negativas: Certidão de Registro de Distribuição de Feitos e Juizados na cidade à qual o candidato pertence (Ações Penais Públicas e Privadas, Inquéritos Policiais, Inquéritos Policiais Militares, Ações Penais da Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, etc.), Certidão de Distribuição do Tribunal da Justiça do Estado ao qual o candidato pertence, Certidão de Distribuição do Tribunal da Justiça Federal e Certidão de Distribuição do Supremo Tribunal Federal.

d) Propostas de Governo: Saúde, Educação, Obras Públicas, Saneamento, Transporte Urbano, Lazer, etc.

e) Situação do Registro do Candidato: Inapto (Cancelado, Cassado, Falecido, Indeferido), ou Apto (Deferido, Deferido com Recurso, Pendente de Julgamento, Deferido com Recurso e cassado com Recurso)

Todos os dados acima relacionados dos 28.274 candidatos que concorrem às eleições gerais deste ano se encontram a disposição de quem quiser consultar no seguinte link:

https://divulgacandcontas.tse.jus.br/divulga/#/

É só clicar no link, na Região (Norte, Nordeste, Centro-Oeste, Sudeste ou Sul), no Estado, no Cargo, no nome do Candidato registrado na urna, e todos os dados aparecem.

PORTANTO, VAMOS CONSULTAR A FICHA ELEITORAL DE NOSSO CANDIDATO A PRESIDENTE DA REPÚBLICA, GOVERNADOR, SENADOR, DEPUTADO FEDERAL, DEPUTADO ESTADUAL E DEPUTADO DISTRITAL E NO PRÓXIMO DOMINGO VAMOS VOTAR COM CONSCIÊNCIA NAQUELE QUE JULGAMOS SER O POLÍTICO CERTO PARA O CARGO.

Blog do JLG
jorgeleopoldogianelli.blogspot.com

segunda-feira, 14 de março de 2022

UM CONTO DE FADAS QUE SE TORNOU REALIDADE

Eu sou fã de carteirinha de Rod Stewart. Não só pelo fato de ser um dos maiores cantores e compositores de rock e pop de todos os tempos, como também pela sua personalidade carismática e sua sensibilidade musical. O timbre áspero e rouco de sua voz o torna um intérprete único, absolutamente impossível de ser imitado. E seu sucesso musical é simplesmente impressionante, principalmente no Reino Unido: 1º lugar com seis álbuns, 24 vezes entre os top 10, e seis vezes como número 1 entre as músicas mais executadas, nove vezes número 1 a nível mundial. Sir Rod Stewart já vendeu 265 milhões de álbuns desde o início de sua carreira.

“I Don’t Want To Talk About It” é uma belíssima balada triste e melancólica escrita em 1971 por Danny Whitten, guitarrista e vocalista da banda Crazy Horse que estava na maior depressão por causa de sua dependência de drogas. Considerada por muitos críticos como uma das maiores baladas de todos os tempos foi gravada pela banda sem fazer quase nenhum sucesso. Danny Whitten morreu em 1972, poucos meses depois da gravação, em consequência de uma overdose. Em 1975, Rod incluiu a balada no álbum Atlantic Crossing, estourando nos rádios com vários sucessos, entre eles “Sailing” e “This Old Heart Of Mine”. Até então, a balada “I Don't Want To Talk About It” continuava em segundo plano, sem tanta repercussão por parte do público e da mídia na época. No entanto, nos shows de Natal que Stewart realizou em Londres naquele ano de 1975, ele ficou surpreso quando seus fãs começaram a cantar o refrão “I Don't Want To Talk About It” junto com ele. Por causa do sucesso observado nos shows, a gravadora de Stewart decidiu lançá-la como single. Como muitos de seus fãs já tinham comprado Atlantic Crossing, a estratégia da gravadora foi pegar a música “The First Cut Is The Deepest” ( uma cover da canção de Cat Stevens) e incluí-la no lado B do single. O resultado foi um sucesso avassalador de “I Don't Want To Talk About It”, que logo alcançou o primeiro lugar das paradas musicais do Reino Unido em 1976, ficando nesta posição por 4 semanas consecutivas. Atualmente, “I Don’t Want To Talk About It” é a música mais tocada de Rod Stewart no Youtube Brasil.

No outono de 2004, Rod Stewart estava entrando numa estação de Metrô em Glasgow quando ouviu uma voz doce e meiga de uma moça cantando com um violão para ganhar uns trocados. Aproximou-se e de imediato ficou encantado com o rosto bonito e o sorriso amplo e tímido da jovem cantora. Não teve dúvida. A convidou para cantar uma música com ele no concerto que estava preparando para sua primeira apresentação no Royal Albert Hall, famoso e seleto salão de espetáculos situado em South Kensington, Londres, inaugurado em 29 de março de 1871 pela Rainha Vitoria em memória do seu falecido consorte Alberto de Saxe-Coburgo-Gota. A música que Rod Stewart tinha em mente para cantar em dueto era “I Don´t Want To Talk About It”. A cantora desconhecida da estação do metrô de Glasgow chamava-se Amy Belle.

O concerto aconteceu em outubro de 2004. É de se imaginar o espanto e a apreensão de toda a equipe de apoio de Rod Stewart, produtores, supervisores, os músicos da sua banda, os backing vocals, o diretor e os 60 músicos da BBC Concert Orchestra, os integrantes do London Community Gospel Choir, e todos os outros músicos convidados que participaram do evento, entre eles Ron Wood, o icônico guitarrista dos Rolling Stones, velho amigo e parceiro de Stewart no início de suas respectivas carreiras, pela ousadia de convidar uma cantora de rua, que nunca tinha se apresentado em nenhuma casa de espetáculos, para cantar pela primeira vez em publico no Royal Albert Hall. O concerto incluiu 17 músicas e se dividiu em três partes. Na primeira parte ele cantou 9 dos seus grandes sucessos . Na segunda parte ele colocou um smoking e cantou 6 clássicos da música americana que fazem parte de sua coletânea American Songbook (quatro CD’s). A terceira parte, composta por quatro grandes sucessos, começou com a balada “I Don´t Want to Talk About It” em dueto com Amy Belle, seguida por Maggie May/Gasoline Alley com Ron Wood e o “hino” Sailing.

Suaves acordes de um violão elétrico fazem a introdução e Rod Stewart começa cantando os dois primeiros versos de “I Don’t Want To Talk About It”. A tensão de Amy é visível. Ela se prepara para entrar com o refrão e um silêncio reina na plateia. Rod Stewart fica de costas, tal vez para ela não ficar mais nervosa, e ela entra com perfeição. Na segunda parte do refrão Rod Stewart se vira para ela e grita aprovando a nota baixa no final dele. No terceiro e quarto versos a descontração já é evidente e Rod Stewart acompanha cantando baixinho e aprovando com a cabeça. No final da estrofe o público explode em assobios, gritos e aplausos e Amy abre um grande e longo sorriso. Em exatamente 1 minuto e 30 segundos ela conquistou um público que nunca tinha ouvido ela cantar.

Na segunda estrofe a descontração de Rod Stewart já é evidente e faz várias “gracinhas”. Quando Amy entra com o refrão a plateia já canta efusivamente junto com ela. Depois da segunda estrofe entra o fantástico solo de saxo alto da Katja Rieckermann. Durante o solo, Rod Stewart, que está numa ponta do palco, olha para Amy que está na outra ponta do palco e ambos caminham um em direção ao outro para um abraço carinhoso. Ela encosta a cabeça no ombro dele. Quando Katja completa seu maravilhoso solo, Rod sinaliza discretamente e os músicos param de tocar para ouvir o público em pé cantando o refrão à capela. Rod Stewart olha encantado para a plateia e para Amy que, visivelmente emocionada,  parece não acreditar no que está acontecendo.

Por fim, Amy canta os últimos três versos da música e o público eufórico bate palmas, grita, assobia enquanto Rod Stewart repete o nome dela: “Amy Belle, Amy Belle”. Ela sorri encabulada e se dirige a ele dando lhe um forte abraço de agradecimento. Da estação de metrô em Glasgow para uma apoteótica aclamação do público britânico no Royal Albert Hall em exatamente 4 minutos e 29 segundos.

Abaixo, o link para assistir ao momento mais importante na vida profissional da cantora Amy Belle.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2022

MAIS UMA AÇÃO GENOCIDA

Desta vez o alvo são as crianças. A ideia de exigir atestado médico para a vacinação das crianças é mais uma prova do plano maquiavélico, de cunho nazista, de extermínio da "sub-raça" de milhões de crianças pobres que não teriam acesso a médicos e não poderiam ser vacinadas, condenando muitas delas à morte.
Infelizmente, ao longo de 2022 continuaremos assistindo a novas ações genocidas que até agora custaram a vida de aproximadamente 472.000 brasileiros. Considerando que até a presente data ocorreram no mundo 5,47 milhões de mortes por Covid-19 e aplicando a média mundial de mortes por mil habitantes, no Brasil (2,7% da população mundial ) deveriam ter ocorrido aproximadamente 147.690 óbitos. Segundo os dados dos veículos de imprensa, desde o início da pandemia ocorreram 619.559 mortes ; ou seja, 471.869 vidas perdidas que poderiam ter sido salvas se não houvesse uma postura negacionista do presidente Bolsonaro no começo da pandemia ("não passa de uma gripezinha") e o Ministério da Saúde não tivesse demorado mais de seis meses para iniciar a vacinação da população contra a Covid-19. A ironia é que isso está acontecendo num pais cujo sistema de Saúde é referência pelo seu elevadíssimo grau de eficiência nas campanhas de vacinação de doenças contagiosas, tal vez o mais eficiente do mundo.
Apesar do genocídio sofrido pela população brasileira durante o climax da pandemia, a postura negacionista se repete agora numa entrevista concedida hoje de manhã pelo presidente Bolsonaro à TV Nova Nordeste, quando se declarou contrário à vacinação infantil contra a Covid e minimizou o número de mortes ocorrido nesta faixa etária, dizendo que é quase zero. Mais uma informação mentirosa, já que segundo dados do SIM (Sistema de Informações sobre Mortalidade), do Ministério da Saúde, divulgados pelo portal UOL, 1.148 crianças de 0 a 9 anos morreram de Covid-19 no país desde o início da pandemia. O número supera o total de mortes por doenças tratadas com vacinação ocorridas entre 2006 e 2020 no país (955 vítimas). Esses dados ficaram indisponibilizados depois do ataque de hackers aos sistemas do ministério da Saúde. Assim, alinhado com a política genocida do governo, 20 dias após a aprovação da Anvisa do uso da vacina para crianças entre 5 e 11 anos, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, anunciou ontem a chegada até o final deste mês de uma remessa de apenas 3,74 milhões (18% do total necessário para a primeira dose) de doses do imunizante da Pfizer, quando o público alvo é de 20,5 milhões de crianças. Subserviente à política genocida do governo, o ministro da Saúde determinou que o intervalo entre a primeira e segunda dose na vacinação das crianças deverá ser de oito semanas, contrariando a recomendação da Anvisa que é de três semanas. Significa que milhões de crianças irão começar o ano letivo no próximo 03 de março sem a devida cobertura vacinal, sendo colocadas suas próprias vidas em risco, além das vidas dos professores e dos funcionários das escolas. Isto, no meio de uma escalada sem precedentes da Covid, no Brasil e no mundo, pela variante ômicron.
Já conversei com minha filha para não mandar minha neta à escola até estar protegida com a segunda dose da vacina. Melhor perder dois meses de aula que a vida de minha neta. Confio em que a maioria dos pais deverá seguir o mesmo exemplo e proteger seus filhos das ações do governo genocida.
E o fim do pesadelo está mais próximo. Domingo, 22 de outubro de 2022.

sábado, 17 de abril de 2021

A ANÁLISE TÉCNICA DO PROCURADOR DA REPÚBLICA DELTAN DALLAGNOL SOBRE A DECISÃO DO STF DE ANULAR AS CONDENAÇÕES DE LULA

“A decisão do STF de hoje (15/04/2021) expõe uma face de um sistema de justiça criminal disfuncional: se o caso do ex-presidente Lula tivesse tramitado em Brasília, teria sido anulado também. Ou seja, o desenho do sistema brasileiro o torna um jogo de perde-perde para a sociedade. Explico:

No caso Lula, o STJ entendeu que a Justiça Federal em Curitiba deveria julgar o caso. Ou seja, se o caso tivesse tramitado em Brasília, o STJ teria anulado o caso em habeas corpus, em decisão contra a qual não caberia recurso (concessão de HC é irrecorrível).
Se isso ocorresse, em seguida, o caso tramitaria em Curitiba e seria novamente questionado nas instâncias superiores. Sabemos o que sucederia: chegando ao STF, este remeteria o caso de novo para Brasília, anulando mais uma vez a condenação.
Resumo: se correr o bicho pega; se ficar o bicho come. Não havia como desenvolver um processo que não fosse anulado, o que favorece a prescrição e a impunidade - o sistema de justiça é extremamente irracional, para a frustração de quem busca justiça no país da corrupção.
Um complicador: em casos complexos, como os de corrupção e lavagem de dinheiro, os fatos são praticados usualmente em diferentes lugares. Isso permite construir argumentos que justificam a competência de diferentes locais ou mesmo diferentes ramos de justiça.
A razoabilidade de argumentos contrários sobre a “competência” (local do caso), somado ao fato de que temos três (e não duas) instâncias revisoras, sem possibilidade de recorrer contra a decisão favorável à defesa em HC, aumenta exponencialmente anulações com base na competência.
Isso mesmo. Nosso raciocínio envolveu a anulação por conta da discordância de dois tribunais. Um terceiro, o Tribunal de Apelação, poderia inserir um terceiro ciclo de anulação do processo nessa história. Veja-se que hoje houve quem cogitou que a competência é de SP e não BSB.
Essas anulações, por sua vez, aumentam exponencialmente as chances de prescrição, ou seja, de completa impunidade. O campo da disputa processual é desnivelado em favor daqueles acusados de cometer crimes, especialmente complexos.
A irracionalidade desse sistema, que privilegia a insegurança jurídica, é ampliada pelo fato de que o que assegura a justiça do julgamento não é na verdade o lugar territorial em que ele acontece, mas o embasamento da decisão nos fatos, nas provas e na lei. Assim, o apego a argumentos técnicos sobre competência territorial, que sempre podem ser formulados em diferentes direções, gira a roda de um sistema irracional que favorece a impunidade e desfavor".

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sábado, 10 de abril de 2021

FIM DA OPERAÇÃO LAVA JATO: OS CORRUPTOS VENCEM, O BRASIL AFUNDA

O SUCESSO DA OPERAÇÃO LAVA JATO NO COMBATE À CORRUPÇÃO NO BRASIL
Quando a Policia Federal deflagrou a Operação Lava Jato em 17 de março de 2014, ninguém poderia remotamente imaginar que com o desenvolvimento das investigações se transformaria na maior operação de combate à corrupção no Brasil e no mundo. A operação inicial se desdobrou em 80 fases operacionais autorizadas inicialmente pelo então juiz Sergio Moro durante as quais ocorreram 163 prisões temporárias, 132 prisões preventivas, 553 denunciados, 255 condenados em 1ª e 2ª instância, 138 acordos de colaboração homologados no STF, 22 acordos de leniência e 723 pedidos de colaboração internacional. Em termos financeiros, a Operação Lava Jato consegui recuperar R$ 4,3 bilhões para os cofres públicos e R$ 12,7 bilhões previstos em multas compensatórias decorrentes de acordos de leniência, totalizando R$ 14,7 bilhões. Ao longo das investigações foram descobertos crimes de corrupção ativa e passiva, gestão fraudulenta, lavagem de dinheiro, organização criminosa, obstrução da justiça, operação fraudulenta de câmbio e recebimento de vantagem indevida. De acordo com as investigações e as delações premiadas, estavam envolvidos em corrupção membros administrativos da empresa estatal petrolífera Petrobras, políticos dos maiores partidos do Brasil, incluindo presidentes da República, presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado Federal governadores, prefeitos, ministros, agentes públicos, além de empresários de grandes empresas brasileiras. Com o avanço das investigações grandes empreiteiras brasileiras, como a Andrade Gutierrez e Odebrecht, cujos respectivos presidentes, Otávio Azevedo e Marcelo Odebrecht, foram presos; posteriormente, muitas outras empresas de ramos diversos seriam investigadas. Ao longo de seus desdobramentos, entre outras pessoas relevantes que acabaram sendo presas graças à operação, incluem-se o ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral e o seu sucessor Luiz Fernando Pezão ainda durante o mandato, o ex-senador Delcídio Amaral, o ex-presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha os ex-ministros da Fazenda Antonio Palocci e Guido Mantega, o publicitário João Santana, o ex-ministro-chefe da Casa Civil José Dirceu, o empresário Eike Batista e, em abril de 2018, o ex-presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva. Ao final de dezembro de 2016, a Operação Lava Jato obteve um acordo de leniência com a empreiteira Odebrecht, que proporcionou o maior ressarcimento da história mundial. O acordo previu o depoimento de 78 executivos da empreiteira, gerando 83 inquéritos no STF. Novas investigações surgiram no exterior a partir destes depoimentos em 49 países, dentre eles Cuba, El Salvador, Peru, Equador e Panamá. Peru virou o caso mais emblemático, após o ex-presidente Alejandro Toledo ter tido a prisão decretada, acusado de receber propina de US$ 23,9 milhões. Não só ele, mas todos os presidentes do país desde o ano 2000 são acusados de terem recebido propina da Construtora Odebrecht.

A REAÇÃO DOS LOBBIES QUE PROTEGEM ÀS ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS NO BRASIL
Tal como aconteceu na Itália com a Operação Mãos Limpas, a Operação Lava Jato pegou os líderes dos diversos esquemas de corrupção totalmente de surpresa. A certeza da impunidade e o poder político e econômico dos envolvidos nas várias organizações criminosas garantia que suas operações fraudulentas fossem cada vez mais ousadas e abrangentes. O sucesso da Operação Lava Jato deveu-se à formação de uma força-tarefa independente, lotada na Procuradoria da República no Paraná, composta por um grupo de procuradores dedicados exclusivamente às investigações dessa operação em conjunto com agentes da Policia Federal e auditores da Receita Federal. A receita não era nada nova. Já em 1930, uma força tarefa liderada por Elliot Ness e os Intocáveis realizou uma ampla operação de combate ao crime organizado em Chicago que culminou com a prisão e condenação de Al Capone a onze anos de prisão por sonegação fiscal. Com o desenvolvimento das investigações em Curitiba, novas forças-tarefas foram criadas para desenvolver a Operação Lava Jato em São Paulo e no Rio de Janeiro. Os dois instrumentos decisivos no sucesso da Operação Lava-Jato foram a possibilidade da prisão dos criminosos em 2ª instância e o instituto da delação premiada. Com o desdobramento da Operação Lava Jato em 80 fases, ficou muito claro que o estado brasileiro estava, e ainda está, dominado por uma corrupção endêmica e sistêmica que abrange os três poderes da República: Executivo, Legislativo e Judiciário, além de agentes públicos e de empresas importantes da atividade econômica Ninguém imaginava que a corrupção tinha alcançado tamanho grau de gigantismo. Mas, após as primeiras fases da Operação Lava Jato, as poderosas forças por trás dos esquemas de corrupção começaram a se articular para elaborar um plano que detivesse aquele grupo de jovens procuradores, agentes da Policia Federal e agentes da Receita Federal totalmente determinados a destruir o maior esquema de corrupção do planeta, que tinha levado mais de 30 anos para ser consolidado. A estratégia dos lobbies que protegem os envolvidos nos diversos esquemas de corrupção se dividiu em quatro etapas: 1) limitar e, se possível, eliminar os principais instrumentos de investigação da Operação Lava Jato: a condução coercitiva, a prisão preventiva, a prisão em 2ª instância e o instituto da delação premiada, 2) desmontar o modelo de força-tarefa criado pelo Ministério Público Federal para investigar grandes operações criminosas; 3) anular os processos dos corruptos condenados ou indiciados em processos investigativos; e, 4) tentativa de criminalizar os procuradores que participaram dos processos investigativos dos grandes e complexos esquemas de corrupção e os juízes que colocaram mais de uma centena de corruptos na cadeia. Um plano tão absurdo quanto abstruso representaria uma completa subversão dos princípios jurídicos do estado de direito e dos valores morais de uma sociedade saudável, o que só poderia ser possível com a direta participação da mais alta instância do poder judiciário brasileiro, o Supremo Tribunal Federal, do Ministério Público Federal e de colaboradores que aportassem fatos novos nos processos dos condenados que contribuíssem para alcançar tais objetivos. Algo absolutamente inimaginável. Acontece que no Brasil, nada é inimaginável!!!

1) A Limitação dos Instrumentos de Ação da Operação Lava Jato
Para deter o avanço da Operação Lava Jato no combate à corrupção, a primeira frente de ação dos grandes lobbies que protegem os condenados e investigados pelos crimes de corrupção foi concentrar seus esforços em pressionar alguns ministros “garantistas” do Supremo Tribunal Federal a proibir a prisão em 2ª instância. Com o fim da prisão em 2ª instância dezenas de presos condenados por corrupção e outros crimes seriam soltos e aguardariam até o último recurso em liberdade, além de representar o fim das delações premiadas, já que "ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória", o que na prática significa que ninguém é preso até ser julgado em última instância pelo Supremo Federal Tribunal; ou seja, uma quarta instância e uma grande chance da pena proscrever antes do réu ”ter o trânsito em julgado”. Depois de 21 anos em que foi possível a prisão do réu condenado em 2ª instância, o Supremo Tribunal Federal, em 2009, assentou que era inconstitucional a execução antecipada da pena. À época, por 7 votos a favor e 4 votos contra, o plenário concedeu o HC 84.078 para permitir a um condenado pelo TJ/MG que recorresse em liberdade. Em 17 de fevereiro de 2016, a questão voltou a ser colocada em votação pelo STF em HC (126.292), que discutia a legitimidade de ato do TJ/SP que, ao negar provimento ao recurso exclusivo da defesa, determinou o início da execução da pena. Desta vez, tal vez influenciado pela opinião pública favorável à Operação Lava Jato que na época tinha denunciado centenas de envolvidos em esquemas de corrupção, pelo placar de 7 votos a favor e 4 contra, o plenário do STF alterou a jurisprudência voltando a ser possível a prisão após 2ª instância. Na ocasião, a guinada jurisprudencial foi capitaneada pelo ministro Teori Zavascki. O entendimento foi considerado um remédio temporário, quer dizer, só dizia respeito ao caso concreto submetido ao plenário do STF. A mudança na jurisprudência fortaleceu de forma extraordinária as ações da Operação Lava Jato e permitiu que dezenas de corruptos condenados fossem presos, inclusive o ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva (preso em 07 de abril de 2018) e as investigações se desdobrassem em novas fases com o subsídio de novas delações premiadas. Com a Operação Lava Jato a pleno vapor, em 06 de outubro de 2016 ocorreu uma nova investida para libertar os condenados nos esquemas de corrupção, agora presos, através do Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e do Partido Ecológico Nacional (PEN) que apresentaram uma Ação Declaratória de Constitucionalidade (ADC), com pedido de liminar, visando ao reconhecimento da legitimidade constitucional da nova redação do artigo 283 do Código de Processo Penal (CPP), inserida pela Lei 12.403/2011. Para as entidades, a norma visava condicionar o início do cumprimento da pena de prisão ao “trânsito em julgado” da sentença penal condenatória. A ADC foi rejeitada e a legitimidade da prisão em 2ª instância foi novamente confirmada, porém desta vez pelo apertado placar de 6 votos a favor e 5 votos contra. Naquela ocasião, a heroína foi a presidenta do STF, ministra Carmem Lúcia que deu o voto de minerva pela continuação da prisão em 2ª instância. O Juiz Sergio Moro comentou na ocasião que derrubar a decisão de manter o réu preso a partir da condenação na 2ª instância seria um golpe mortal para a Operação Lava Jato. Mas, o placar apertado mostrava o avanço dos poderosos lobbies que protegem os envolvidos nos esquemas de corrupção e organizações criminosas, e como a legitimidade da prisão em 2ª instância ainda teria que ser analisada, tarde ou cedo, pelo plenário do STF, já se vislumbrava uma virada da mesa. Finalmente, os corruptos e os “chefes” do crime organizado conseguiram a vitória em 07 de novembro de 2019, quando o agora presidente do STF Dias Toffolli, decidiu colocar a questão em votação no plenário do Supremo Tribunal Federal, sem nenhum novo fato que justificasse tal medida. Na época, o ministros que apoiavam incondicionalmente a Operação Lava Jato (Edson Fachin, Roberto Barroso e Luis Fux) protestaram veementemente contra a decisão do ministro Dias Toffolli, argumentando que a frequente mudança de jurisprudência em relação à prisão em 2ª instância gerava grande insegurança jurídica. Mas a intenção de Toffolli era mesmo beneficiar os corruptos proibindo a prisão em 2ª instância e sabia que o momento era esse: por 6 votos a favor e 5 votos contra, voltou a vigorar a proibição da prisão em 2ª instância. Quem mudou o voto em relação ao julgamento anterior e permitiu a volta da proibição da prisão em 2ª instância foi o ministro Gilmar Mendes, agora inimigo Nº 1 da Operação Lava Jato, do juiz Sergio Moro e do juiz Marcelo Bretas. Essa decisão do Supremo Tribunal Federal, como Moro tinha previsto, representou um golpe mortal para a Operação Lava Jato, pois perdeu seus dois principais instrumentos de ação. Representou também a volta por cima dos corruptos e em muitos casos a volta a suas atividades ilícitas. A consequência mais emblemática da proibição da prisão em 2ª instância foi a soltura, no dia seguinte (08 de novembro de 2019), do mais ilustre condenado e preso por corrupção como resultado das investigações da Operação Lava Jato: o ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva. Junto com ele, mais 32 presos por crimes de corrupção foram beneficiados. Dentro das decisões adotadas pelo Supremo Tribunal Federal cuja finalidade era a limitação ou proibição do uso de importantes instrumentos de investigação da Operação Lava Jato se encontra a impossibilidade de condução coercitiva imediata do réu ou investigado para interrogatórios sem antes ser notificado. Por maioria de votos, o Plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) declarou que a condução coercitiva de réu ou investigado para interrogatório, constante do artigo 260 do Código de Processo Penal (CPP), não foi recepcionada pela Constituição de 1988. A decisão foi tomada em 14 de junho de 2018 no julgamento das Arguições de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPFs) 395 e 444, ajuizadas, respectivamente, pelo Partido dos Trabalhadores (PT) e pela Ordem dos Advogados do Brasil (OAB). O emprego da medida, segundo o entendimento majoritário, representa restrição à liberdade de locomoção e viola a presunção de não culpabilidade, sendo, portanto, incompatível com a Constituição Federal. Pela decisão do Plenário, o agente ou a autoridade que desobedecerem a decisão poderão ser responsabilizados nos âmbitos disciplinar, civil e penal. As provas obtidas por meio do interrogatório ilegal também podem ser consideradas ilícitas, sem prejuízo da responsabilidade civil do Estado. Ao proclamar o resultado do julgamento, a presidente do STF, a ministra Cármen Lúcia, ressaltou ainda que a decisão do Tribunal não desconstitui interrogatórios realizados até aquela data (14 de junho de 2018), mesmo que o investigado ou réu tenha sido coercitivamente conduzido para tal ato. A Operação Lava Jato realizou ao todo 211 conduções coercitivas para interrogatório, muitas das quais foram decisivas para o avanço das investigações. A Lei 13.964/19, mais conhecia como “Lei Anticrime” alterou a previsão de decretação de prisões preventivas. O juiz não pode mais decretar prisão preventiva de ofício, sem provocação do Ministério Público ou do delegado de polícia. Antes, em casos de prisão em flagrante, o juiz podia converter a prisão em preventiva de forma automática. Agora, é obrigatória a realização de uma audiência de custódia e a prisão só pode ser convertida se houver pedido do MP ou da polícia. Uma outra forma de limitar a atuação de juízes e membros do MP veio do próprio Congresso na forma do PLC 27/2017. Em 26 de junho de 2019, o Plenário do Senado Federal aprovou, por 48 votos favoráveis e 24 contrários, o Projeto de Lei da Câmara (PLC) nº 27/2017. A proposta legislativa, a princípio, instituía as “10 medidas de combate à corrupção”, projeto elaborado pela Associação Nacional dos Procuradores da República (ANPR) e apresentado por incitativa popular com mais de 1,7 milhão de assinaturas em 29 de Março de 2016 , (PL 4.850/2016). Contudo, em sua tramitação na Câmara, foram feitas diversas alterações ao texto, que transformaram o projeto anticorrupção num projeto pro- corrupção, entre elas a inclusão de um artigo totalmente fora do contexto original que revisa os crimes de abuso de autoridade, estabelecendo punições para juízes e membros do Ministério Público, com o objetivo de criminalizar condutas, inclusive com penas de reclusão. Essa iniciativa foi vista pelas categorias como “retaliação” do Congresso Nacional às investigações em curso no país pela Operação Lava Jato. O Conselho Nacional de Procuradores Gerais do Ministério Público dos Estados e da União (CNPG) e a Frente Associativa da Magistratura e do Ministério Público da União (Frentas), reagiram veementemente declarando que: “No texto do PLC 27/2017, conhecido como as “10 medidas de combate à corrupção”, foram incluídos dispositivos que enfraquecem o próprio combate à corrupção e a muitos outros crimes e ilegalidades. Pode-se chegar ao absurdo, caso aprovado o referido projeto, de uma organização criminosa valer-se de associação para ingressar com ação penal contra membros do Ministério Público e do Poder Judiciário, como forma de perseguição a agentes públicos no cumprimento do seu dever constitucional”. O projeto foi aprovado no Senado com a retirada de várias emendas que não constavam do texto original , inclusive o da criminalização das ações de promotores e juízes, e voltou para o Congresso onde deverá ser votado novamente. Como constatamos após esta extensa análise, a primeira etapa da investida do lobby dos corruptos foi completada com total sucesso. Tal como aconteceu com a Operação Mãos Limpas na Itália.

2) A Extinção do Modelo de Forças Tarefas pelo Próprio Procurador Geral da República
A força tarefa da Operação Lava Jato nasceu em 17 de março de 2014, quando o Procurador Geral da República era Rodrigo Janot. Rodrigo Janot, jurista, membro do Ministério Público desde 1984, fora nomeado da lista tríplice por Dilma Rousseff em 17 de setembro de 2014 e ocupou o cargo até 17 de setembro de 2017. Era um defensor do modelo de forças-tarefas para investigar grandes esquemas criminosos. A Operação Lava Jato se consolidou durante o período em que Rodrigo Janot foi procurador da República e trabalhando em conjunto alcançaram grandes feitos. O ponto alto dessa parceria foi o acordo de delação premiada da JBS, ponto alto da Operação Lava Jato no âmbito do Supremo Tribunal Federal. O protagonismo alcançado pela Operação Lava Jato e pelo Procurador Geral da República no combate aos crimes de corrupção, começou a incomodar alguns membros da banda podre do Supremo Tribunal Federal, particularmente o ministro Gilmar Mendes. Ocorreram vários embates entre Janot e o ministro Gilmar Mendes. Janot declarou em 19 de junho de 2017 que “entre os críticos da Lava Jato estão aqueles que querem proteger amigos poderosos, embora empunhem a bandeira da defesa do Estado de Direito”, referindo-se claramente ao ministro Gilmar Mendes. Pela sua vez, em agosto de 2017, Gilmar Mendes chegou a dizer que: "ele (Janot) não tem preparo jurídico nem emocional para dirigir um órgão dessa importância". Também mencionou que a Procuradoria-Geral da República (PGR) ficou "a reboque das loucuras" de Janot. A discordância entre os dois alcançou um estágio tal que levou Janot a cogitar matar o ministro Gilmar Mendes. Em entrevista ao jornal Estado de São Paulo em 26 de setembro de 2019, o ex-procurador afirmou que chegou a ir armado a uma sessão do STF com a intenção de matar a tiros o ministro. “Não ia ser ameaça não. Ia ser assassinato mesmo. Ia matar ele (Gilmar) e depois me suicidar”, afirmou Janot. Gilmar Mendes se tornou inimigo mortal da Operação Lava Jato e do Procurador Geral da República quando Janot pediu ao STF o impedimento, a suspeição e a incompatibilidade de Gilmar Mendes nas decisões que resultaram na libertação de Jacob Barata Filho, um dos maiores empresários do setor de transporte coletivo no Rio. Gilmar Mendes foi padrinho de casamento da filha do empresário que, em 2013, se casou com um sobrinho da mulher do ministro. A PGR também apontou vínculos na relação de sociedade entre Barata Filho e o cunhado do ministro. No Supremo Tribunal Federal, além de Gilmar Mendes, Dias Toffoli e Ricardo Lewandowsky são também inimigos mortais da Operação Lava Jato. Constituem a chamada ala “garantista” do Supremo Tribunal Federal que, sob o argumento de que defendem os direitos fundamentais dos réus, na realidade são lenientes com os envolvidos em corrupção e com os chefes do crime organizado.
A sucessora de Rodrigo Janot na chefia da Procuradoria Geral da República foi a jurista Raquel Dodge nomeada da lista tríplice em 18 de setembro de 2017 pelo então Presidente da República Michel Temer e ocupou o cargo até 17 de setembro de 2019. A nomeação de Raquel Dodge como Procuradora Geral da República representou um grande enfraquecimento da Operação Lava Jato. Próxima de Gilmar Mendes, desde o início Raquel Dodge foi considerada pelos procuradores da Operação lava Jato como uma inimiga interna. Para os procuradores liderados por Deltan Dallagnol, a procuradora-geral era um obstáculo incontornável por ser dona da caneta que tanto liberava o orçamento à força-tarefa como enviava ao Supremo Tribunal Federal os acordos de delações premiadas que envolviam autoridades com foro privilegiado. A situação ficou tão tensa que em abril de 2019 os procuradores discutiram a possibilidade de apresentar um mandado de segurança alegando omissão de Dodge no caso da colaboração de Léo Pinheiro. Os procuradores reclamavam da morosidade da Procuradora geral em mandar os acordos de colaboração para o Supremo Tribunal Federal. Além disso, Dodge acionou o STF para barrar a criação de um fundo para administrar R$ 2,5 bilhões de multas pagas pela Petrobras nos Estados Unidos. Os R$ 2,5 bilhões seriam divididos em formas iguais em dois fundos: um de combate à corrupção, que teria seu conselho diretor indicado pela Procuradoria da República no Paraná e outro para ressarcir investidores minoritários da Petrobrás. "Caros. O barraco tem nome e sobrenome: Raquel Dodge", resumiu o procurador Januário Paludo. Em 16 de julho de 2019, insatisfeito com a gestão de Raquel Dodge, o coordenador da Operação Lava Jato na PGR, Jose Alfredo de Paula, pediu a exoneração do cargo.
O sucessor da Procuradora Geral da República, Raquel Dodge foi o jurista Augusto Aras, nomeado pelo presidente Jair Bolsonaro fora da lista tríplice pela primeira vez desde 2003. A nomeação fora da lista tríplice provocou protestos de procuradores em quase todos os estados da federação. Foi o último prego do caixão da Operação Lava Jato. Augusto Aras, subserviente incondicional do presidente Jair Bolsonaro com a esperança de ser nomeado para a vaga no Supremo Tribunal Federal que será deixada pelo ministro Marco Aurélio no dia 5 de julho de 2021, foi colocado no cargo com a missão de blindar o presidente Jair Bolsonaro de qualquer processo criminal junto ao STF e de enterrar definitivamente a Operação Lava Jato. Aras é abertamente contra o modelo de força-tarefa. Ele defendeu desde o começo que a Operação Lava Jato devia se integrar ao GAECO (Grupo de Atuação Especial de Combate Ao Crime Organizado), órgão criado em 1994 que se destina a investigação e combate ao crime organizado e controle externo da atividade policial, promovendo as ações penais pertinentes. È composto por membros do Ministério Público, Polícia Civil e Polícia Militar, designados e integrados em Grupo. Determinado a modificar o “modus operandi” do Ministério Público no que se refere ao combate ao crime organizado, Augusto Aras decretou a desmobilização da força tarefa de Curitiba a partir de 03 de fevereiro de 2021. A mudança ocorreu após uma portaria da Procuradoria-Geral da República (PGR) que estendeu os trabalhos da operação até outubro deste ano, mas com nova estrutura. Cinco integrantes passam a compor o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), e devem continuar nos casos investigados pela operação. No entanto, outros 10 procuradores que estavam na Lava-Jato não foram alocados no Gaeco e deixaram de ter atribuições delimitadas. A força tarefa da Operação Lava Jato no Rio de Janeiro foi desmobilizada em 31 de março de 2021, após quase cinco anos de trabalho, 55 operações abertas e 894 pessoas denunciadas. Foi o fim da Operação Lava Jato. Concluída, com total sucesso, a segunda etapa da estratégia de acabar com a Operação Lava Jato e com o modelo de “forças-tarefas” tão bem sucedido no Brasil e em países como E.U.A. e Itália no combate à corrupção e ao crime organizado.

3) A Extinção dos Processos da Operação Lava Jato em Curitiba
Outra poderosa frente contra a Operação Lava Jato seria aberta no campo jurídico. Em novembro de 2018 os advogados do ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva entraram com o HC 164493 onde se alegava a suspeição do ex juiz Sérgio Moro para atuar nas ações penais abertas contra o ex-presidente da República perante a 13ª Vara Federal de Curitiba (PR) e pedia a nulidade de todos os atos processuais praticados por Moro, com o restabelecimento da liberdade a Lula. A defesa buscava a nulidade da ação penal que culminou na condenação de Lula pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro referente ao triplex em Guarujá (SP), e dos demais processos a que responde o ex-presidente em Curitiba. O relator do processo foi o ministro Edson Fachin. O caso começou a ser julgado em 04 de dezembro de 2018 pela Segunda Turma, composta na época pelos ministros Carmen Lúcia (Presidente), Gilmar Mendes, Ricardo Lewandowsky, Edson Fachin e Celso de Mello. Com dois votos pelo não conhecimento do HC 164493 (o relator Edson Fachin e Carmem Lúcia)), e pressentindo que seria derrotado, o ministro Gilmar Mendes pediu vista do processo. O objetivo era ganhar tempo por dois motivos. Em 23 de Junho de 2020 Gilmar Mendes assumiria a presidência da 2ª turma, o que lhe daria a prerrogativa de elaborar a agenda e dar prosseguimento ao processo no momento mais favorável; e em 13 de outubro de 2020 o ministro Celso de Mello se aposentaria deixando uma vaga livre para ser preenchida por alguém indicado pelo presidente Jair Bolsonaro. Nos cálculos de Gilmar Mendes, o indicado para a vaga deixada por Celso de Mello certamente votaria a favor da suspeição do ex-juiz Sergio Moro. Desta forma, ele sentou encima do processo pacientemente durante dois anos e três meses, pautando a retomada do julgamento para 09 de março de 2021. Surpreendentemente, um dia antes, numa tentativa desesperada de salvar o legado da Operação Lava Jato de Curitiba o ministro Edson Fachin, o maior defensor da operação no Supremo, decidiu que a 13ª Vara Federal de Curitiba, que tinha Moro como titular, era incompetente para processar e julgar os casos do tríplex, da chácara de Atibaia (SP), além de dois processos envolvendo o Instituto Lula, por não ser o juiz natural das causas. Com isso, as condenações do ex-presidente Lula foram anuladas e ele voltou a ter todos os seus direitos políticos restabelecidos, se tornando novamente elegível. Os autos, que estavam no Paraná, foram enviados para a Justiça Federal do Distrito Federal, por ordem do ministro. Depois da decisão, Fachin declarou que a suspeição de Moro tinha perdido o objeto. Dessa forma, o ministro quis preservar o legado da Lava Jato e evitar que a suspeição de Moro contaminasse os demais processos tocados pelo Ministério Público Federal do Paraná. Ao anular as condenações do ex-presidente Lula, Fachin declarou "a nulidade apenas dos atos decisórios praticados nas respectivas ações penais, inclusive os recebimentos da denúncia". Ou seja, o ministro encontrou uma forma de manter válidas as quebras de sigilo, interceptações e material resultante de buscas e apreensões. Como os autos foram enviados à Justiça Federal do DF, o juiz que se tornar responsável pelos casos do ex-presidente ainda poderia usar os dados colhidos durante as investigações conduzidas por Moro, segundo a decisão de Fachin. No entanto, se Moro fosse declarado suspeito, como foi, isso não seria mais possível, já que as provas estariam "contaminadas". Na reabertura do julgamento, Fachin comunicou aos ministros da 2ª Turma sua decisão de declarar incompetente a 13ª Vara Federal de Curitiba para processar e julgar os casos da chácara de Atibaia (SP), além dos dois processos envolvendo o Instituto Lula, considerando ainda que a suspeição de Moro tinha perdido o objeto. Mas, o ministro Gilmar Mendes queria a cabeça do ex-juiz Sergio Moro e anular os processos da Lava Jato. Como o processo de suspeição já estava em julgamento desde 04 de dezembro de 2018, ele argumentou que deveria prosseguir. Colocou o assunto em votação e por 4 votos a favor e 1 voto contra, a turma decidiu pela continuação do julgamento da suspeição de Moro. Paradoxalmente, a anulação dos processos contra Lula o tornaria elegível para as próximas eleições e isso não estava nos planos do presidente Jair Bolsonaro cuja intenção é disputar com Fernando Haddad (PT) em 2022. Assim, mandou o ministro Nunes Marques, por ele designado para ocupar a vaga de Celso de Mello, pedir vista do processo para ele ter tempo de fundamentar seu voto pelo não conhecimento do HC 164493. Com o voto de Nunes Marques, o HC 164493 não seria reconhecido e Moro não seria declarado suspeito nos julgamentos de Lula, enterrando a possibilidade de anular os processos. Quando o ministro Nunes Marques devolveu o processo, o ministro Gilmar Mendes inclui o julgamento da suspeição do ex-juiz Sergio Moro pleiteada pela defesa de Lula para a próxima sessão do plenário em 23/03//20121. Porém, em mais uma reviravolta do caso, a ministra Carmem Lucia mudou seu voto (os ministros podem mudar seu voto antes de ser proclamado o resultado do julgamento) proferido no início do julgamento em dezembro de 2018 e acompanhou os votos a favor do HC de Gilmar Mendes e seu aliado incondicional na turma, o ministro Ricardo Lewandowsky. Desta forma, por 3 votos a favor e 2 votos contra, na tarde da terça-feira, 23 de março de 2021, a 2ª turma do STF declarou que o ex-juiz Sergio Moro foi parcial nas decisões sobre Lula no âmbito da operação Lava Jato, anulando todas as decisões do ex-juiz sobre o ex-presidente, e tornando todos os atos do processo contra Lula nulos. O ministro Edson Fachin afirmou que a declaração de suspeição do ex juiz Sergio Moro no julgamento dos processos contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva "pode ter efeitos gigantescos" e resultar até mesmo na anulação de todos os casos da Lava-Jato nos quais ele e a força-tarefa atuaram. Pressão para que isso aconteça não falta. Afinal, as bancadas dos deputados investigados por corrupção e outros crimes representam 36% do Congresso, enquanto as bancadas dos senadores investigados representam 40% do Senado. Não foi por acaso que o atual presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP), declarou recentemente em relação ao processo de suspeição do ex-juiz Sergio Moro que livraria Lula das condenações por enquanto: “Lula pode até merecer. Moro jamais”. No âmbito da Operação Lava Jato, em junho de 2020, a PGR denunciou Arthur Lira pelo crime de corrupção passiva. Investigações apontaram que ele teria recebido R$ 1,6 milhão em propina da empreiteira Queiroz Galvão. Em setembro, contudo, a PGR pediu que o STF rejeitasse a denúncia. Lira também é réu por suposta participação em esquema de desvios que causou prejuízo de R$ 29 bilhões à Petrobras. A denúncia foi feita em 2019 ao STF. Seu partido, o Partido Progressista (PP) tem sete investigados por corrupção na Operação Lava Jato. No total, são 184 deputados e 35 senadores investigados pela Operação Lava Jato. Concluída, portanto, com total sucesso, a terceira etapa da estratégia de tentar garantir a impunidade de todos os corruptos e criminosos envolvidos nas dezenas de fases da Operação Lava Jato em Curitiba. Existe a real possibilidade de tudo voltar a estaca zero, como se a Operação Lava Jato nunca tivesse existido.

4) A Tentativa de Criminalização dos Procuradores e Juízes que Participaram da Operação Lava Jato
O sucesso alcançado pela força tarefa coordenada pelo procurador Deltran Dallagnol e a atuação firme e corajosa do ex juiz da 13ª Vara Federal em Curitiba, Sergio Moro, encarregado do julgamento dos crimes identificados pela Operação Lava Jato, deram a esperança ao povo brasileiro de que pela primeira vez na historia o Brasil estava definitivamente entrando num processo irreversível de combate à corrupção e ao crime organizado. A prova disso foi uma pesquisa divulgada em 1º de fevereiro de 2016 pelo Instituto Ipsos revelando que 8 em cada 10 brasileiros eram favoráveis a continuidade da Operação Lava Jato até o fim das investigações, mesmo que isso gerasse instabilidade política no país. Mas, as investigações da Operação Lava Jato, que foram se aprofundando cada vez mais dentro de um amplo e poderoso esquema de corrupção e crimes financeiros, foram revelando a participação de importantes e influentes membros do Poder Executivo, do Poder Legislativo, do Poder Judiciário e de dirigentes de grandes empresas . A essa altura se ascendeu o sinal vermelho e os poderosos lobbies que apoiavam, e continuam apoiando mais do que nunca, os esquemas de corrupção e enriquecimento ilícito à custa do estado brasileiro chegaram à conclusão de que era absolutamente necessário parar com as investigações da Operação Lava Jato. Mas como? Só existiam um caminho. Pressionar o Supremo Tribunal Federal e o Congresso para adotar medidas que conseguissem deter o projeto anticorrupção do procurador Deltan Dallagnol e seus intocáveis. Começou então a contraofensiva. Em 14 de setembro de 2016, Deltan Dallagnol e parte da equipe da Lava Jato fizeram uma controversa e em alguns momentos ingênua apresentação em Power Point do sumário das acusações contra Luis Inácio Lula da Silva, colocando-o como "maestro de uma orquestra criminosa" mas sem ofertar denúncia estruturada de chefia da organização criminosa. A apresentação foi usada como motivo para um processo do ex-presidente Lula contra o procurador, que foi rejeitado em 20 de dezembro de 2017 pelo juiz da 5ª Vara Cível de SBC, decisão que foi contestada em recurso pela defesa do ex-presidente. Em 5 de setembro de 2018, o Tribunal de Justiça de São Paulo negou por unanimidade o recurso de Lula. Em 5 de fevereiro de 2018 o jornal Folha de ão Paulo revelou que o procurador, assim como a maioria dos juízes e procuradores no país, recebe auxílio-moradia mesmo tendo imóvel próprio na cidade em que reside e trabalha, com a clara intenção de desconstruir a imagem dos procuradores perante a opinião pública. Em 15 de agosto de 2018, o procurador deu uma entrevista para a Radio CBN em que afirmou: “Os três mesmos de sempre do Supremo (Gilmar Mendes, Dias Toffoli e Ricardo Lewandowsky), que tiram tudo de Curitiba e mandam tudo para a Justiça Eleitoral e que dão sempre os habeas corpus. Estão sempre formando uma panelinha e que mandam mensagem muito forte de leniência a favor da corrupção”. O Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) decidiu em 27 de setembro de 2018, após análise da denúncia apresentada pelo Ministro Dias Toffolli, abrir um processo administrativo disciplinar contra o procurador, que já respondia a outro processo de mesma natureza. Em razão de tuites com componente político e acusações ao senador Renan Calheiros este oficiou em 19 de março de 2019 uma representação contra o procurador em face de seus tuites que nas palavras do senador “descumpriu seu dever funcional ao promover campanha”, em especial contra o próprio Renan na disputa pela presidência do Senado. Desde que se tornou público que Dallagnol incentivou investigações da esposa de Mendes, Guiomar, do presidente do STF, Dias Toffoli, e da mulher dele, Roberta Rangel com o objetivo de encontrar evidências que ligassem a família às empreiteiras investigadas por casos de corrupção na Petrobras, o ministro do Supremo Tribunal Federal, Gilmar Mendes se tornou o mais ferrenho inimigo de Dallagnol e sua força-tarefa e de sua colaboração com o juiz Sergio Moro. Em entrevista ao Correio Braziliense em 03 de Outubro de 2019, o ministro do Supremo Tribunal Federal Gilmar Mendes chamou a operação Lava Jato de “organização criminosa para investigar pessoas”. Gilmar Mendes disse sobre a condenação do Lula, que as ações do promotor "anularam a condenação”. Disse que os métodos de Dallagnol e dos procuradores da força-tarefa pode ser comparado ao "caso clássico do policial que coloca drogas no carro do investigado”. No julgamento do Agravo Regimental 4435-DF, o Ministro usou termos como “cretinos”, “desqualificada”, “despreparada”, “gentalha”, “esse tipo de gente”, para se referir ao procurador e os seus subordinados. Ele disse que “os procuradores tiveram atitude de juvenis ao querer confrontar o STF”.
Mas, o maior golpe desferido contra a credibilidade da Operação Lava Jato e a imparcialidade das condenações do ex-juiz Sergio Moro, veio de uma forma totalmente inesperada. Em 9 de junho de 2019, o periódico virtual The Intercept publicou matéria com transcrições ilegais obtidas por hackers de conversas entre o ex juiz Sergio Moro e o promotor Deltan Dallagnol no âmbito da Operação Lava Jato, que demonstravam evidências de colaboração ilegal entre promotoria e juiz. As transcrições sugerem que o juiz deu acesso privilegiado à acusação, auxiliou o Ministério Público a construir os casos contra os investigados, ordenou modificação nas fases da operação, cobrou agilidade em novas operações, forneceu conselhos estratégicos, antecipou decisões, deu pistas informais e sugestões de recursos ao Ministério Público. Tal forma de colaboração é proibida pela Constituição brasileira e vedada pelo Código de Ética da Magistratura, uma vez que fere os princípios da imparcialidade, independência e equidistância entre defesa e acusação. As transcrições demonstram ainda que a promotoria tinha receio da fragilidade das acusações feitas contra o ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva e que buscou combinar previamente elementos do caso. Há ainda conversas entre membros do ministério público versando sobre formas de inviabilizar uma entrevista do ex-presidente Lula à colunista da Folha de São Paulo Mônica Bergamo, no âmbito da eleição presidencial de 2018, pelo receio de que a entrevista poderia "eleger o Haddad ou permitir a volta do PT ao poder", o que indicou partidarização e politização da conduta da promotoria. Em nota, a força-tarefa da Lava Jato confirmou a existência do vazamento de comunicações entre promotores e juízes e afirmou ser "vítima de ação criminosa de um hacker que praticou os mais graves ataques à atividade do Ministério Público." A descoberta da ação de um hacker gravando as mensagens entre promotores e juízes deu lugar a Operação Spoofing, uma operação deflagrada pela Polícia Federal em 23 de julho de 2019, com o objetivo de investigar as invasões às contas da Telegram de autoridades brasileiras e de pessoas relacionadas à Operação Lava Jato. A operação foi assim batizada, pois spoofing significa falsificação tecnológica que procura enganar uma rede ou uma pessoa fazendo-a acreditar que a fonte de uma informação é confiável quando, na realidade, não é. De acordo com a Polícia Federal, mais de mil celulares foram atacados, com mais de cinco mil chamadas maliciosas realizadas de um mesmo provedor. O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Ricardo Lewandowski derrubou em 01 de fevereiro de 2021 o sigilo das conversas, obtidas ilegalmente pelos hackers, entre procuradores da Operação Lava Jato e o ex-juiz Sergio Moro por meio de mensagens trocadas pelo aplicativo Telegram. As conversas foram obtidas pelos advogados do ex-presidente Lula depois que Lewandowski decidiu que a defesa poderia ter acesso ao material apreendido na Operação Spoofing, que teve como alvo o caso de rastreamento dos celulares de diversas autoridades, entre elas Moro e integrantes da força-tarefa da Lava Jato. A análise pelos advogados de Lula do material hackeado fortaleceu de forma inequívoca o processo de suspeição de Moro nos processos de Lula. A decisão do Ministro do Supremo Tribunal Federal de liberar provas obtidas ilegalmente para a defesa de Lula, fere frontalmente o parágrafo LVL, do Artigo 5º, da Constituição Federal que diz: “são inadmissíveis, no processo, as provas obtidas por meios ilícitos”; portanto, veda a utilização de provas obtidas por meios ilícitos, como os meios que violam normas do ordenamento jurídico brasileiros. A liberação do material aprendido na Operação Spoofing, mesmo não sendo incluído nos autos como prova, certamente influenciou a decisão da Ministra Carmen Lúcia para mudar seu voto no processo de suspeição do ex-juiz Sergio Moro. Essa decisão do ministro Ricardo Lewandowski, que deveria zelar pelo cumprimento da Constituição, é mais uma prova da firme determinação de alguns ministros da mais alta corte do país de proteger os corruptos e os integrantes do crime organizado anulando as ações da Operação Lava Jato.
A impessoalidade do ex juiz Sergio Moro começou a ser questionada quando aceitou o convite do presidente Jair Bolsonaro para ocupar a pasta de Ministro de Justiça e Segurança Pública. Com essa decisão, ele teve que abandonar o cargo de juiz de 1ª instância que ocupara durante 22 anos. Em conversa particular com Sergio Moro, logo que ele aceitou o cargo de ministro da Justiça e Segurança , o ministro Marco Aurélio avisou ao ex-juiz que tinha cometido um equívoco abandonado o cargo de juiz, com o poder da caneta, para ser auxiliar do presidente da República. “A magistratura é para sempre”, disse Marco Aurélio. O agora ex-ministro de Justiça e Segurança ocupou o cargo de 01 de Janeiro de 2019 a 24 de abril de 2020. Moro pediu demissão do ministério após intervenção de Bolsonaro na Policia Federal, alegando que o presidente não cumpriu com as promessas estabelecidas na ocasião do convite para ocupar o cargo no governo. Moro alegou que “o problema é a violação de uma promessa que me foi feita, de carta branca. Em segundo lugar, mostraria uma interferência política na PF, o que gera um abalo na credibilidade, não só minha, mas também do governo”. Moro já estava incomodado porque logo percebeu que o projeto de combate à corrupção de Jair Bolsonaro era apenas uma promessa de campanha para ganhar as eleições e utilizou a popularidade do ex-juiz (na época bem maior do que a do próprio candidato a presidente) para se eleger presidente. Na realidade o projeto de Jair Bolsonaro era acabar com a Operação Lava Jato, abandonar o projeto de combate à corrupção e fortalecer o poder dos milicianos com os quais os próprios filhos tem fortes ligações. A saída de Sergio Moro foi considerada pelos bolsonaristas como uma traição ao “Mito”. Desta forma, o agora ex-ministro Sergio Moro foi forçado a exercer sua profissão de advogado na iniciativa privada tornando-se sócio-diretor da Alvarez & Marsal, empresa americana que presta serviços de recuperação judicial e assessoria jurídica, para atuar na área de disputas e investigações. Entre os clientes da consultora estão empresas envolvidas na Operação Lava Jato, como as construtoras Odebrecht e a OAS, que ele mesmo condenou, não parecendo essa atividade muito ética. Outra atividade do ex-juiz é como palestrante sobre direito, corrupção, economia e outros assuntos que marcaram sua biografia. Para a carreira de palestrante, Moro contratou Dody Sirena, empresário responsável pela carreira do cantor Roberto Carlos. As escolhas equivocadas do ex-juiz Sergio Moro, associadas às revelações das conversas hackeadas quando era juiz com os procuradores da Lava Jato afetaram consideravelmente sua imagem perante a opinião pública e serviram de base para fundamentar o pedido de suspeição dos advogados de Lula. O seu comportamento pouco ético envolvendo-se na política e depois aceitando uma sociedade num escritório de advocacia para defender empresas que ele mesmo condenou foram tal vez os maiores subsídios recebidos por aqueles que queriam por um ou outro motivo acabar com a Operação Lava Jato e anular grande parte ou todo o legado deixado pela Operação de combate à corrupção e ao crime organizado. No ambiente jurídico há um consenso de que é pouco provável que o ex-juiz Sergio Moro sofra qualquer tipo de punição, embora tecnicamente pudesse responder por prevaricação e abuso de autoridade, mas não existem provas robustas que comprovem essas duas acusações, além de já estar fora da magistratura. No caso dos procuradores da Operação Lava Jato, o ministro Humberto Martins, presidente do Superior Tribunal de Justiça (STJ), instaurou inquérito em 19 de fevereiro de 2021 para apurar a suposta tentativa de intimidação e investigação ilegal de ministros da corte, bem como de violação da independência jurisdicional dos magistrados – hipóteses levantadas após a divulgação de mensagens trocadas entre procuradores ligados à Operação Lava Jato e apreendidas no âmbito da Operação Spoofing (Vaza Jato), que investiga as mensagens hackeadas das conversas entre os procuradores da Operação Lava Jato e o ex-juiz Sergio Moro. A ministra Rosa Weber, do STF (Supremo Tribunal Federal), determinou em 30 de março de 2021) a suspensão do inquérito aberto no STJ (Superior Tribunal de Justiça) para investigar os procuradores que integravam a força-tarefa da operação Lava Jato. Rosa Weber respondeu a pedido da PGR (Procuradoria Geral da República) para que o STF suspenda o inquérito. A ministra quer que o tema seja julgado na 1ª Turma do Supremo. A PGR considera que a investigação viola as prerrogativas dos membros do Ministério Público Federal e está carregada de “vícios”.

CONCLUSÕES
Após seis anos de Operação Lava Jato de combate à corrupção e ao crime organizado, surge a pergunta: valeu a pena?
Do ponto de vista financeiro, apesar dos R$ 14,7 bilhões valores gerados pela Operação Lava Jato, por outro lado , o custo econômico e social para o estado brasileiro foi consideravelmente maior. Algumas consultorias calcularam que a retração na economia do país causada pela Operação Lava Jato teria sido em torno de 1% a 1,5% do PIB por ano. Os efeitos diretos e indiretos da Operação Lava Jato na economia do país podem ter causado, segundo projeção da consultoria Go Associados para 2015, uma retração de mais R$ 140 bilhões na economia do país. Segundo o jornalista João Borges, do G1, isso se deve à Petrobras ter de rever todos seus investimentos em empresas investigadas ligadas ao mercado de óleo e gás; obras pararam ou atrasaram, empresas perderam crédito e, consequentemente, o desemprego cresceu. Segundo a Agência Brasil , mais de 50 mil empresas e 500 mil empregos foram afetados por causa da Lava Jato. Um estudo elaborado pela DIEESE (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos) encomendado pela CUT identificou que a operação fez o Brasil perder R$ 172,2 bilhões em investimentos e encerrou 4,4 milhões de empregos no país.
Do ponto de vista de combate à corrupção, podemos lembrar aquele velho ditado: “uma andorinha não faz verão”. A pesar da abrangência da Operação Lava Jato e suas 80 fases de investigação, fica a impressão de que foi apenas um ponto fora da curva na historia do combate à corrupção no Brasil, quando um grupo de jovens procuradores movidos pelo ideal de combater à corrupção endêmica e sistêmica que assolava na época, e ainda assola, o estado brasileiro, junto com alguns corajosos juízes de primeira instância embarcaram idealisticamente numa aventura com o objetivo de tentar arrancar as fortes e profundas raízes da corrupção e do crime organizado entranhadas no estado brasileiro. Não passou de um sonho, já que só conseguiram arrancar alguns míseros galhos. O sistema (establishment) rapidamente se organizou no sentido de deter e anular a tentativa arrogante, pretensiosa e prepotente desse grupo de “mequetrefes”, termo usado por Gilmar Mendes para se referir aos procuradores da Operação Lava-Jato, que ousou desafiar os donos das “capitanias” que administram os diversos esquemas de corrupção entranhados no estado brasileiro desde sempre.
Do ponto de vista jurídico, foram criados vários mecanismos que dificultam cada vez mais as investigações e a obtenção de provas para indiciar e condenar os envolvidos em esquemas de corrupção. As brechas deixadas pela Constituição de 1988 foram aproveitadas pelos cada vez mais poderosos e influentes escritórios de advocacia especializados em direito penal de forma a garantir a impunidade dos seus clientes e aumentar suas receitas. Têm escritórios de advocacia especializados em direito penal com mais de 350 funcionários. A proliferação de grandes casos como a Odebrecht e Camargo Correa, têm garantido honorários que variam na faixa de R$ 3 milhões a R$ 15 milhões cobrados pela defesa de um único caso. Nesse sentido, a Ordem dos Advogados do Brasil tem se posicionado sempre contra a prisão em 2ª instância, pois isso garante o recebimento de honorários por milhares de recursos dos que tem poder econômico para apelar até o STF. Justamente os envolvidos nos esquemas de corrupção.
Do ponto de vista político, as investigações da Lava Jato e as delações premiadas de executivos e ex-executivos de várias empresas que tinham atividades lícitas, como as construtoras, constituíam um enorme caixa 2 não só para sonegar impostos, mas para custear despesas que não podiam ser (ou simplesmente não eram) declaradas, seja pela ilegalidade da origem, ou porque se queria mantê-las sob sigilo, como no caso de doações a partidos e políticos para financiamento de campanha. Pagamentos ocultos que encobriam o próprio mecanismo da corrupção eram o coração da Lava Jato. Aqui se enquadram as propinas e os subornos resultantes de negociatas em contratos públicos, com pagamentos feitos em dinheiro vivo ou sob a forma de benesses, como aulas de tênis, viagens, joias, quadros, etc. De acordo com investigações reveladas pela Lava Jato, nem sempre o recebedor da "doação" usava o dinheiro para financiar gastos de campanha. Muitos usaram a verba recebida para adquirir bens pessoais, mansões luxuosas, fazendas, carros importados, helicópteros, contas milionárias em paraísos fiscais e financiar um estilo de vida de alto luxo. Nestes casos, o caixa 2 encobria o simples pagamento de um suborno ou propina a quem, por exemplo, "ajudou" uma empreiteira a vencer uma licitação pública. Era o caso da corrupção endêmica e sistêmica que perdura até os dias de hoje no Rio de Janeiro: segundo as investigações da Lava-Jato, a taxa de propina era de 5% do valor de todo os contratos com o Estado, e o ex-governador Sérgio Cabral (PMDB), hoje preso e condenado a mais de 200 anos de reclusão, comandava o esquema de desvio de verbas em todos os contratos e licitações. Assim, acabou sobrando, mais uma vez, para o contribuinte: o financiamento de campanhas eleitorais no Brasil passou a depender de recursos públicos e de doações de pessoas físicas a partir de 2015, quando o Supremo Tribunal Federal (STF) declarou inconstitucionais as doações eleitorais feitas por pessoas jurídicas. Diante da decisão do STF, o Congresso Nacional criou, em 2017, o Fundo Especial de Financiamento de Campanha (FEFC), que destina recursos do Tesouro Nacional para que os candidatos a cargos eletivos possam divulgar as suas propostas aos eleitores. Desta forma, os partidos políticos no Brasil passaram a contar com duas fontes de recursos públicos para financiar as campanhas dos candidatos nas eleições: o Fundo Eleitoral, e o Fundo Especial de Assistência Financeira aos Partidos Políticos, o Fundo Partidário. O FP (Fundo Partidário), é mais antigo, foi instituído em 1995 e, por muito tempo, foi a única fonte de recursos públicos divididos entre os partidos. Nas eleições de 2020, o Fundo Eleitoral foi fixado em R$ 2 bilhões e o Fundo Partidário em R$ 800 milhões, totalizando R$ 2,8 bilhões. Por último, não devemos esquecer que atualmente as bancadas dos deputados investigados ou indiciados por corrupção representam 36% da Câmara e as bancadas dos senadores representam 40% do Senado. O corporativismo tantas vezes demonstrado, tanto na Câmara dos Deputados quanto no Senado Federal, não permite que tenhamos a esperança de encontrar em ambas as casas ambientes favoráveis para o combate à corrupção.
A grande lição que fica da Operação Lava Jato é que a corrupção endêmica e sistêmica que tomou conta do estado brasileiro é um problema estrutural que não será resolvido com medidas conjunturais. Será necessária uma mudança radical na mentalidade da sociedade brasileira em relação à corrupção. Essa mudança dependerá de políticas públicas de longo prazo que impliquem na diminuição da desigualdade em todos os níveis, da sociedade brasileira. Na grande desigualdade social se encontra a raiz da corrupção endêmica e sistêmica entranhada no estado brasileiro. Essa mudança dependerá, entre outras medidas, de uma política educacional de longo prazo, que começa na escola e nos lares de nossas crianças. A corrupção não se encontra apenas nos vultosos recursos doados aos deputados e senadores pelas empresas para aprovar projetos no Congresso, nas propinas cobradas para ganhar licitações públicas, nas propinas exigidas para liberar recursos para obras nos Estados e Municípios ou no superfaturamento de obras públicas de grande envergadura. A corrupção se encontra principalmente em pequenas atitudes diárias que achamos normais e que se encontram todas resumidas na chamada “lei do Gerson”. O que a Operação Lava Jato tentou combater, sem sucesso, foi apenas uma ramificação da corrupção estrutural e, paradoxalmente, a própria Operação Lava Jato acabou contaminada por essa corrupção que ela mesma se propôs a combater. Para aqueles que acompanhamos esperançosos“pari passu” a Operação Lava Jato desde o seu início até seu último dia, ficou uma sensação de frustração e desânimo. Com o fim da Operação Lava Jato a corrupção venceu e o Brasil perdeu, mais uma vez. Tal vez o Brasil tenha perdido definitivamente o bonde da historia, como afirmam há muito tempo os mais pessimistas (ou será realistas?).
GOD SAVE BRASIL!!!-

VISITA A PÁGINA "POR UM BRASIL SEM CORRUPÇÃO" 






































sábado, 13 de fevereiro de 2021

TRIBUTO AO REI: ELVIS (Está mais vivo do que nunca)

Hoje acordei com saudade do Elvis. Após o café da manhã (por volta do meio-dia) procurei na minha cdteca e escolhi o DVD "Aloha From Hawaii, Live in Honolulu, 1973". Foi o primeiro show de música ao vivo via satélite e se tornou a maior audiência da história televisiva americana até então, superando a audiência da ida do homem à lua, estimada em mais de 1 bilhão e meio de espectadores. Com a digitalização e as fantásticas torres de som da Sony, hoje é como assistir ao show ao vivo. E após 43 anos da gravação, constatei um fato impressionante: Elvis interpreta cada vez melhor. Sim, porque ele não apenas cantava com aquela maravilhosa voz de barítono/tenor (50 vozes), como que também desenvolvia uma coreografia e uma representação teatral de acordo com cada música. De acordo com Henry Pleasants, autor do livro Os Grandes Cantores Populares Americanos: “A voz (de Elvis) cobre duas oitavas e uma terceira, que vai desde o tom de barítono grave Sol até ao tom agudo de tenor Si, com uma extensão em falsete até, pelo menos, um Ré plano. A melhor oitava de Presley situa-se no meio, de Ré plano para Ré plano, concedendo um passo extra completo, quer seja para cima ou para baixo. Chamemos-lhe um barítono alto. Em It’s Now or Never (1960), ele termina com uma cadência vocal completa (La, Sol, Fá) que não tem nada a ver com os mecanismos vocais do R&B e do Country. Aquela nota de Lá é atingida mesmo no nariz, e é apresentada de forma menos espantosa apenas pelo número de canções em que ele consegue apresentar de forma muito fácil e precisa notas Si plano. Para além de tudo isto, ele não se confinou apenas a um tipo de produção vocal. Em baladas e canções de country, ele canta em tom de Sol e Lá de voz cheia, que faz qualquer barítono de ópera ficar verde de inveja. Também é um estilista naturalmente assimilativo, com uma multiplicidade de vozes – de fato, Elvis é uma voz extraordinária de muitas vozes.”

A performance começava pelos macacões (jumpsuits) exóticos que em qualquer outro artista ficariam ridículos, mas que no caso de Elvis o elevavam à categoria de rei do palco. Desde os primeiros acordes sua presença magnética e carismática hipnotizava uma audiência de fãs incondicionais e admiradores do seu talento absoluto. Hoje eu percebo que eles estavam assistindo uma apresentação histórica de um artista único. A partir da tradicional abertura “Also Sprach Zarathustra”, Elvis interpreta 24 canções de diversos gêneros musicais, que vão desde o velho e tradicional Rock’n’Roll (Johnny B. Goode, Blue Suede Shoes, Hound Dog, Long Tall Sally, Lota-ta Shakin’ Goin’ On) até o Rock (CC Ryder, Burning Love, You Gave me a Mountain), passando pelo Country (Love me, Suspicious Minds, I’m so Lonely I Could Cry), Blues (Stream Roller Blues), Baladas Románticas (Something, My Way, I Can’t Stop Loving You, It’s Over, What Now my Love, Fever, Welcome to my World, I’ll Remember You, I Can’t Help Falling in Love with You), Gospel (Amazing Grace), e Hinos Folk (American Trilogy: Dixie, The Battle Hymn of the Republic e All my Trials). O mais impressionante é que, fora o gênero Rock’n”Roll, do qual Elvis é indiscutivelmente o ícone máximo, a maioria das outras músicas foram popularizadas por cantores do quilate de Frank Sinatra, George Harrison, James Taylor, Ray Charles, Carole King, entre outros, porém Elvis consegue interpretações absolutamente pessoais que levam sua marca musical e que em nada lembram as interpretações originais. Na verdade parece que todas as músicas foram compostas e arranjadas pelo próprio Elvis.

O gênio musical de Elvis fica mais em evidência ainda quando analisamos seus grupos musicais de apoio. Em primeiro lugar o grupo vocal masculino, J. D. Summer e The Stamps Quartet. Elvis era absolutamente alucinado pelos tons graves e J. D. Summer, cantor gospel, entrou para o Guinness Book por ter uma das vozes mais graves do mundo. Eles se conheceram quando Elvis tinha dez anos de idade e ficaram amigos até a morte de Elvis. J. D. Summer e The Stamps Quarter cantaram no funeral de Elvis. Elvis contratou J. D. Summer and The Stamps como seu grupo de apoio em tempo integral no final de 1971. Em segundo lugar o fantástico grupo vocal feminino Sweet Inspirations, fundado por Emily "Cissy" Houston, a mãe de Whitney Houston, e do qual Dionne Warwick participou no início da década de 60. Em terceiro lugar, a participação da soprano Kathy Westmoreland para cantar as notas mais altas. Elvis Presley gravou e excursionou com J. D. Summer e The Stamps, com o grupo vocal feminino Sweet Inspirations e com Kathy Westmoreland pelo resto de sua vida. Todos eles foram essenciais para criar a identidade musical de Elvis. Dos integrantes da banda, a participação fundamental do virtuoso “lead guitar”James Burton com quem Elvis brinca com admiração durante todo o show. Enfim, são 56:40 de pura emoção, êxtase e prazer. É de se lamentar, mas sua morte física prematura nós faz lembrar dele para sempre cheio de vida e no ápice de sua carreira musical. Assim, sua presença está mais viva do que nunca.

No dia 16 de agosto de 1977, eu estava voltando do escritório para casa quando escutei a notícia de sua morte. Chegando em casa chamei meu filho, Jorgito, na época com 8 anos,(agora está com 51 anos) e lhe comuniquei que Elvis tinha morrido. Levou alguns segundos para entender o que tinha acontecido e quando caiu a ficha começou a chorar desconsoladamente durante 30 minutos sem parar. Levou uma semana para se recuperar da perda. Acredito que tenha sido a pior noticia que ele recebeu na infância. Esse era o efeito Elvis Presley.

terça-feira, 5 de janeiro de 2021

MENSAGEM DE DESPEDIDA DA OPERAÇÃO LAVA JATO DO PROCURADOR DA REPÚBLICA DELTRAN DALLAGNOL (16/09/2020)

"Hoje é meu último dia na força-tarefa da Lava Jato. Os mesmos valores que me fizeram dar o meu melhor na LJ, hoje me levam a me dedicar à minha família, com atenção especial ao tratamento de minha filha. Seria inviável fazer isso sem me afastar da maior operação da história do país.

A jornada de 73 fases da Lava Jato foi cheia de inovações, desafios e aprendizados. Foram vinte anos em seis. Trabalhamos duro para alcançar justiça, dentro da lei, com eficiência e excelência. Rompeu-se a impunidade de poderosos e se recuperaram bilhões.
Vivemos momentos de grandes desafios e pressões. Uma das razões para não desistirmos é que isso é o que esperamos de outros em nosso lugar: que lutem e perseverem. É isso que esperamos de cada um de Vocês: que se esforcem para vencer a corrupção. Porque isso depende do seu engajamento como cidadão.
Agradeço de todo coração o apoio que cada um dedicou ao nosso trabalho e à causa anticorrupção.
Isso vale não só para as equipes que trabalharam na Lava Jato, mas vale para o Brasil. É apenas pela soma de nossos esforços e com perseverança que será possível alcançar um país mais justo, fortalecer o império da lei e a democracia, diminuir a corrupção e da impunidade e melhor realizar os direitos básicos da sociedade.
Se Você acha que é difícil vencer a corrupção, não tenha medo de perder. Tenha sim receio de não lutar pelo que acredita, de abandonar seus sonhos. Perder lutando pelo que se acredita é tão honroso quanto vencer.
Foi porque muita gente pensou assim que a Lava Jato chegou aonde chegou.
Hoje a sociedade confia que, por meio do trabalho firme de policiais, promotores, juízes e cidadãos, é possível fazer a diferença contra a corrupção no Brasil. Seja realista quanto às dificuldades, mas não perca a fé e a esperança.
Tenho plena confiança no trabalho que os colegas da Lava Jato, servidores e procuradores, seguirão fazendo. Eles e vocês sempre contarão comigo nessa causa.
Estarei em férias e passarei algumas semanas mais ausente em redes sociais, para me dedicar de modo mais intenso à reflexão e oração, para estudos e treinamentos sobre o quadro de saúde de minha filha, mas logo estarei de volta, defendendo as mesmas boas causas."

sábado, 26 de dezembro de 2020

HISTORIA DA FUNDAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DO MOINHO FLUMINENSE PELOS IRMÃOS CARLOS E LEOPOLDO GIANELLI (de 25/08/1887 à 20/11/1927)

Carlos Gianelli
                                                                  
                                                        CARLOS GIANELLI
                                             Nasc.: 08/12/1854 (Montevideu- Uruguay)
                                             Morte:14/03/1908 (Europa)


MARCO HISTÓRICO DA CIDADE DO RIO DE JANEIRO.
Há mais de um século, um conjunto de prédios em frente ao cais do porto figura proeminente na paisagem e na história do Rio de Janeiro. Inaugurado quando o País ainda era Império, e a cidade, sua capital,  a primeira fábrica de farinha de trigo do Brasil teve seu alvará de funcionamento concedido pela Princesa Isabel, em 25 de agosto de 1887.  Fruto do empreendedorismo dos irmãos uruguaios Carlos e Leopoldo Gianelli, o Moinho Fluminense  por exatos 100 anos funcionaria ali, naquele conjunto de fábricas, armazéns e silos hoje tombado pelo patrimônio histórico e arquitetônico do bairro da Saúde. Palco e testemunha de guerras, revoluções sociais, mudanças de regime e crises financeiras mundiais, o Moinho Fluminense foi também ponta de lança de enormes avanços industriais que ajudaram a movimentar a economia nacional e trazer o Brasil para o século XXI. 

CHEGADA DE CARLOS GIANELLI AO BRASIL. 
Filho do empresário da moagem de trigo Santiago Gianelli italiano de Castiglione Chiavarese, que havia migrado para o Uruguai em 1849, Carlos Gianelli tem 25 anos quando chega ao Rio de Janeiro, após período de estudos na Inglaterra, para instalar um moinho na capital do Brasil Imperial. Com a experiência adquirida na indústria do pai em Montevidéu, Carlos, auxiliado pelo irmão Leopoldo, abre seu primeiro moinho de beneficiamento de trigo em um prédio da antiga Rua Larga de São Joaquim, atual Rua Marechal Floriano, Centro do Rio de Janeiro.

FUNDAÇÃO DA GIANELLI & CIA. 
No dia 11 de julho de 1883, três anos após sua chegada, Carlos Gianelli se associa a Francisco de Paula Mayrink para fundar a Gianelli & Cia., com contrato social registrado na Junta Comercial da Corte.  

INAUGURAÇÃO DO MOINHO FLUMINENSE. 
Os irmãos Gianelli deslocam sua indústria de moagem para a Rua da Saúde, atual Rua Sacadura Cabral, no bairro da Saúde, zona portuária do Rio de Janeiro. As novas instalações ficam no prédio Nº 170, adquirido por 60 mil réis ao proprietário Benjamin Wolf Moss (que precisou rescindir o contrato com o então arrendatário, indenizado com a quantia de 3 mil réis), e no terreno vizinho, Nº 172, adquirido por 70 mil réis à Arthur Moss & Cia. (A quitação plena e geral da hipoteca dos imóveis seria lavrada em 18 de março de 1890.) É fundada então a sociedade comanditária Moinho Fluminense, a primeira fábrica de moagem de trigo do Brasil, que tem como principais acionistas a Gianelli & Cia. (400 ações), Leopoldo Gianelli (180 ações), as empresas Phipps Irmãos & Cia., Duvivier & Cia. e John Pethy & Cia. (100 ações cada), Carlos Gianelli (90 ações), o cônsul Érico A. Pena (50 ações) e o Visconde de Carapebris (40 ações). No dia 25 de agosto de 1887, a nova sociedade ganha o alvará de funcionamento, concedido pela Princesa Isabel, dando início às operações e à história do Moinho Fluminense (o decreto seria publicado no Diário Oficial do dia 1º de setembro de 1887. A capacidade de moagem inicial do Moinho Fluminense é de 80 toneladas de trigo por dia.

POLÍTICA PIONEIRA DE DISTRIBUIÇÃO DE MELHORES SEMENTES PARA OS AGRICULTORES.
Instalado em um prédio de cinco andares projetado por Antonio Jannuzzi, na época um dos melhores arquitetos do Rio de Janeiro, o Moinho Fluminense é o primeiro moinho industrial moderno do País. Seu maquinário vem importado da fábrica Thomas Robinson & Son, de Rochdale, Inglaterra. Sua produção não é comercializada diretamente com o grande público, sendo distribuída exclusivamente pela firma John Moore & Cia., com sede na Rua Candelária, Nº 92, Centro do Rio de Janeiro. Já nos primeiros anos, o Moinho Fluminense apresenta bom desempenho: em 1888, pagas todas as despesas e separados os montantes destinados aos lucros suspensos e ao fundo de reserva, os associados ganham dividendos da ordem de 14%. A concorrência limita-se ao Moinho Inglês, então a única outra empresa dedicada à industrialização do trigo na cidade do Rio de Janeiro. Para fomentar o cultivo do grão no País, o Moinho Fluminense passa a distribuir sementes da melhor qualidade a agricultores das regiões Nordeste (PE) e Sul (PR, SC, RS). Note-se que essa politica pioneira adotada pelo Moinho Fluminense a partir de 1890 de distribuir melhores sementes para os agricultores para melhorar a produtividade e a qualidade do trigo nacional se consolidou definitivamente no Brasil com a criação da EMBRAPA (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária) em 07 de Dezembro de 1972, com a missão de "Viabilizar soluções de pesquisa, desenvolvimento e inovação para a sustentabilidade da agricultura, em benefício da sociedade brasileira". Foi a partir de pesquisas cientificas no setor agropecuário realizadas  pelos 2.444 pesquisadores da EMBRAPA trabalhando em centros de pesquisa espalhados em quase todos os estados brasileiros que foi possível elaborar técnicas e insumos capazes de tornar o Brasil o terceiro maior produtor de alimentos e o segundo maior exportador de alimentos do mundo; havendo uma previsão de que a partir de 2030 poderá se tornar o maior produtor de alimentos do mundo. 

O MOINHO FLUMINENSE SE TORNA S.A.
Em 1889, a empresa anexa um prédio próximo à sua fábrica no Nº 176, adquirido por 65 mil réis à dona Maria Joaquina Duarte e torna-se sociedade anônima. A S.A. Moinho Fluminense tem como primeiro diretor-presidente o seu fundador, Carlos Gianelli. 

A FACHADA DO MOINHO FLUMINENSE
Antes do Aterro e da construção do cais do porto, o mar vinha bater à porta do Moinho Fluminense. A fachada do Moinho Fluminense foi um projeto e construção de Antonio Jannuzzi, Irmão & Co. O prédio original do Moinho Fluminense com cinco andares foi construído em 1887; em 1896, a construção do prédio da Administração; em 1912 a construção do Silo Nº 1, do túnel ligando o Porto ao Parque Industrial e do elevador para descarga dos navios. A fachada do Moinho Fluminense foi modernizada em 1913, após acréscimo de mais quatro andares sobre o original. Em 1926, a construção do Silo Nº 2. 

CARLOS GIANELLI ABRE A ROTA DE COMPRA DE TRIGO DO URUGUAI E DA ARGENTINA
Relatório referente ao período de 1º de abril de 1889 a 30 de setembro de 1891 registra preocupação que perduraria em anos seguintes: a política tarifária do País estaria gerando frequentes oscilações do câmbio, elevando o preço do trigo importado (e encarecendo as mercadorias do Moinho Fluminense) ao mesmo tempo em que dava estímulos à penetração, no mercado nacional, de farinhas de trigo estrangeiras. Por outro lado, negociações do diretor-presidente Carlos Gianelli com produtores de trigo na região do Rio da Prata logram importante conquista para a empresa. Se até então a S.A. Moinho Fluminense importava trigo principalmente de Nova York, da Nova Zelândia e da Região do Báltico, o Prata passa a oferecer uma alternativa de fonte de matéria-prima mais próxima e com maior segurança contra danificação do cereal (causada pelo depósito em celeiros expostos aos rigores do clima naquelas outras regiões). Isto foi possível porque Henrique Gianelli, irmão de Carlos e Leopoldo era Presidente do Moinho Gianelli, maior moinho de trigo na época  em Montevidéu- Uruguay. Henrique Gianelli, naturalmente conhecia e tinha contato com os maiores produtores de trigo do Uruguay e da Argentina para abastecer de matéria prima o moinho fundado pelo seu pai, Giácomo Gianelli que tinha migrado para o Uruguay em 1849 e fundado o Moinho Gianelli. Note-se que a abertura da rota de compra de trigo do Uruguay e da Argentina foi um acontecimento histórico que se consolidaria ao longo  do século XX e até nossos dias. Em 2019, 83%  (6, 6 milhões de toneladas) das importações de trigo do Brasil procederam da Argentina. E a oscilação na política tarifária sobre o trigo é problema que persiste até agora tal como acontecia em 1889.  Em Junho de 2019, o Comitê-Executivo de Gestão (Gecex), órgão deliberativo da Câmara de Comércio Exterior (Camex), autorizou uma cota adicional de importação de 450 mil toneladas de trigo de fora do Mercosul sem Tarifa Externa Comum (TEC) de 10%. A decisão do governo brasileiro de ampliar a cota para a importação de trigo de fora do Mercosul gerou protesto dos produtores e exportadores da Argentina – principal fornecedor do cereal para o Brasil. Essas indas e vindas na politica tarifária brasileira em relação à importação de trigo continua provocando até hoje grandes incertezas tanto nos fornecedores de trigo quanto nos importadores de trigo do Brasil. 
O relatório do Moinho Fluminense no período 1889/1891 aponta  entre os maiores consumidores dos produtos da empresa,  os mercados do Rio de Janeiro, de São Paulo embora cite embaraços no transporte da farinha ao mercado paulista via estrada de ferro Central do Brasil e do Rio Grande do Sul

CONCORRÊNCIA ESTRANGEIRA
Relatório referente ao ano de 1892 e início de 1893 segue indicando a concorrência de farinhas importadas como um desafio às finanças da empresa. Além de apresentarem menor qualidade e, portanto, preços reduzidos, as farinhas estrangeiras chegam ao País em sacos e barricas livres de direitos diferentemente dos produtos do Moinho Fluminense, que precisa importar sacos, devido ao preço não compensador cobrado pelo fabricante nacional de sacaria. Ainda assim, no segundo semestre de 1892, após pagos os dividendos (3%), os lucros distribuídos aos acionistas atingem 28% do capital. Somados aos 14% repartidos durante o período em que a empresa era sociedade comanditária, totalizam 42% até então. 

RUI BARBOSA SE REFUGIA NO MOINHO FLUMINENSE
A Revolta da Armada foi um levante da Marinha brasileira - apoiado supostamente pela oposição monarquista -, que, insatisfeita com a recém-proclamada República, exigia a renúncia do presidente Floriano Peixoto. O restante das forças armadas, no entanto, assim como grande parcela da sociedade civil, apoiou o novo Presidente, e a Revolta acabou sufocada no prazo de seis meses. No ano de 1893, durante a Revolta da Armada , enfrentamento bélico entre a Marinha e o Exército do Presidente Floriano Peixoto, o Ministro da Fazenda Ruy Barbosa, considerado o mentor da revolta, refugia-se eentro do Moinho Fluminense, com a ajuda do amigo Carlos Gianelli. Ameaçado de prisão, em 1º de Outubro parte para Chile e o Jornal do Brasil do qual era Redator-Chefe é fechado. Rui Barbosa (05/08/1949- 01/03/1923) foi um intelectual, político, advogado, jornalista, diplomata, orador e escritor brasileiro e uma das mais importantes figuras na história do Brasil, pois participou da fundação da Academia Brasileira de Letras (ABL), da qual foi presidente, após a morte de Machado de Assis.

REVOLTA DA ARMADA AGRAVA DIFICULDADES. 
Em 1893, o enfrentamento bélico entre a Marinha e o Exército do Presidente Floriano Peixoto, a chamada Revolta da Armada, que tem como palco principal a Baía de Guanabara traz novos e graves transtornos para as atividades da S.A. Moinho Fluminense. O Moinho se torna cenário e personagem do combate; tropas de guarnição do litoral e da polícia portuária ocupam as dependências da empresa; trincheiras são construídas sobre a ponte de embarque e desembarque da fábrica; tiros são disparados em direção ao moinho, atingindo telhados, caldeiras e os próprios funcionários. Como consequência, o desembarque da matéria-prima no porto é prejudicado, a remessa de farinha para a Região Sul deixa de ser feita, após interceptação da via marítima, e a estrada de ferro Central do Brasil deixa de prestar o serviço regular de transporte das mercadorias para o interior fluminense e paulista. Some-se a isso o câmbio desfavorável e um convênio firmado entre os governos brasileiro e americano, que favorece a importação de farinhas de trigo americanas, e o Moinho Fluminense se vê obrigado a reduzir sua moagem e, consequentemente, seu lucro. No segundo semestre de 1893, a empresa não apresenta lucro em suas atividades. No ano seguinte, contudo, a empresa volta a apresentar lucros suficientes para saldar os juros de suas dívidas consolidada e flutuante e operar pequenos abatimentos na última.

DEPÓSITO DE FARINHAS DO MOINHO FLUMINENSE NO RIO DE JANEIRO
Para aumentar lucros, a empresa elimina intermediários, estabelecendo distribuidoras em cidades consumidoras e vendendo seus produtos diretamente a padeiros . Os anos seguintes veem o Moinho Fluminense superar os desafios agravados pela guerra na Baía de Guanabara e navegar mares mais calmos. Atendendo a reivindicações do setor moageiro, o Congresso Nacional isenta as empresas da taxa de expediente sobre o trigo. O mercado consumidor cresce, a ponto de, em 1896, a empresa não dar conta da demanda de seus clientes. (No mesmo ano, o jornal O Paiz informa que a S.A. Moinho Fluminense teria comprado toda a produção de trigo de Montevidéu, no Uruguai.) No ano seguinte, o maquinário da empresa contabiliza então 33 moinhos, 20 purificadores, 30 centrífugas e cernideiras, 20 máquinas de peneirar, 8 máquinas de ensacar farinha e farelo, 40 máquinas para limpar o trigo, 23 aspiradores e ventiladores e 4 balanças automáticas. Em agosto de 1897, o relatório da diretoria à assembleia geral de acionistas revela que a produção teria mantido os níveis de exercícios anteriores e que a estratégia da empresa de evitar ao máximo os intermediários comprando diretamente de produtores e vendendo diretamente a padeiros teria dado lucro. Ainda em 1897, soldados provenientes da campanha de Canudos (BA) retornam à capital e se instalam em habitações precárias no Morro da Providência, próximo ao Ministério do Exército e ao Moinho (ao fundo). Segundo alguns historiadores, tendo se aquartelado durante a batalha no sertão baiano em um morro chamado favela recoberto por arbusto rasteiro de mesmo nome, eles teriam batizado a nova morada também de favela. Segundo essa versão, seria a primeira favela do Brasil.

OPERAÇÃO A TODO VAPOR. 
O relatório de fins de agosto de 1898 indica uma produção regular, operação ininterrupta do maquinário e finanças positivas: após pagos os juros de capital tomado a crédito; após atendido o serviço de amortização das debêntures e pagos os respectivos juros; e após ser reservada elevada soma para a conta de lucros suspensos (necessária para resguardar a empresa de adversidades futuras); o Moinho Fluminense distribui dividendos de 7% aos acionistas. Com isso, desde a instalação da sociedade comanditária, os dividendos distribuídos pela empresa totalizariam então 70% de seu capital social. No mesmo ano, a empresa tem como maior concorrente a Moinhos e Granéis do Rio de Janeiro. Em 1899, a empresa anuncia que irá aumentar o movimento de moagem das máquinas devido à ampliação da clientela. Além disso, novas solicitações de lavradores por sementes indicam que os esforços da empresa em fomentar o cultivo de trigo nos campos do País começam a dar resultados. As primeiras décadas do século XX reservariam, no entanto, mais dificuldades. 

DESAFIOS ECONÔMICOS NO  INÍCIO DOS ANOS DE 1900 
No primeiro semestre do ano de 1900, a diretoria da S. A. Moinho Fluminense comunica a assembleia de acionistas decisão do Governo Federal de retirar a pequena proteção concedida ao setor moageiro, tributando pesadamente a entrada do trigo em grão no território nacional. A medida novamente favorece a concorrência estrangeira; o aumento do preço do trigo no mercado internacional tampouco ajuda. A conjuntura econômica, somada à necessidade de uma série de amplas reformas nas instalações do Moinho Fluminense, faz com que durante a maior parte das duas primeiras décadas do século XX a empresa decida não distribuir dividendos aos acionistas. Apenas em março de 1918 a diretoria voltaria a propor o pagamento de dividendos de 10% sobre o capital social. 

RODRIGUES ALVES ANUNCIA A REFORMA DOS PORTOS NACIONAIS
 Em dezembro de 1902, Rodrigues Alves assume a Presidência da República e, em mensagem ao Congresso Nacional, anuncia a intenção de melhorar os portos nacionais, a começar pelo do Rio de Janeiro. A obra envolveria o aterro de mais de três quilômetros de faixa costeira, dando origem a várias pequenas baías entre a ponta de São Bento e a de São Cristóvão, e favoreceria o Moinho Fluminense por ampliar os terrenos adjacentes à indústria, permitindo a extensão de suas instalações. As obras de ampliação do porto aconteceriam ao longo da década, sendo o novo Porto do Rio de Janeiro inaugurado em 20 de julho de 1910. 

REVOLTA DA VACINA AFETA A PRODUÇÃO DO MOINHO FLUMINENSE
Em meados de 1904, chegava a 1.800 o número de internações devido à varíola no Hospital São Sebastião. Mesmo assim, as camadas populares rejeitavam a vacina, que consistia no líquido de pústulas de vacas doentes. E ainda corria o boato de que quem se vacinava ficava com feições bovinas. Então, em junho de 1904, Oswaldo Cruz motivou o governo a enviar ao Congresso um projeto para reinstaurar a obrigatoriedade da vacinação em todo o território nacional. Após intenso bate-boca no Congresso, a nova lei foi aprovada em 31 de outubro e regulamentada em 9 de novembro.Em 5 de novembro, foi criada a Liga Contra a Vacinação Obrigatória. Cinco dias depois, estudantes aos gritos foram reprimidos pela polícia. Durante a Revolta da Vacina, a população monta barricadas entre 10 e 16 de novembro de 1904 em frente ao Moinho Fluminense contra a vacinação obrigatória instituída pelo diretor- -geral de Saúde Pública, o médico Oswaldo Cruz .No dia 11, já era possível escutar troca de tiros. No dia 12, havia muito mais gente nas ruas e, no dia 13, o caos estava instalado no RioApós um saldo total de 945 prisões, 461 deportados, 110 feridos e 30 mortos em menos de duas semanas de conflitos, Rodrigues Alves se viu obrigado a desistir da vacinação obrigatória. 

FALECIMENTO DE CARLOS GIANELLI.
Acometido por grave doença, não diagnosticada, em 1906, Carlos Gianelli é levado para tratamento na Europa, ficando o seu irmão Leopoldo com o cargo de diretor-presidente do Moinho Fluminense. O fundador da empresa morreria dois anos depois, em 1908, ainda fora do Brasil. 

PARTICIPAÇÃO NA EXPOSIÇÃO NACIONAL. 
Organizada no Rio de Janeiro entre 11 de agosto e 15 de novembro de 1908, no bairro da Urca, a Exposição Nacional Comemorativa do 1º Centenário da Abertura dos Portos do Brasil conta com a presença do Moinho Fluminense, que expõe pequenos sacos e frascos de cristal com amostras de farinha de trigo, semolinas, farelo, farelinho, etc. A participação no evento confirma a importância da empresa para a economia nacional de então ao final daquela década. Além da elevada produção em termos de moagem de trigo, o Moinho emprega aproximadamente 150 pessoas e consome, anualmente, em torno de 1 milhão de metros de pano nacional, de uma então emergente indústria têxtil brasileira.

A MULTINACIONAL BUNGE & BORN ADQUIRE A MAIORIA DAS AÇÕES
 Em 1914, a multinacional holandesa Bunge & Born presente no Brasil desde 30 de setembro de 1905, quando da fundação da S. A. Moinho Santista Indústrias Gerais adquire a maioria das ações  da S. A. Moinho Fluminense e passa a controlar a sua produção, embora  D Leopoldo Gianelli continue na função de Diretor-Presidente da S.A. Moinho Fluminense até o final dos seus dias. Em 1925, a capacidade de moagem do Moinho Fluminense alcança  200 toneladas de trigo por dia. 

REFORMAS E RELAÇÃO COM O CONSUMIDOR A PARTIR DO INÍCIO DOS ANOS DE 1920 
Durante o início dos anos 1920, a empresa segue investindo em melhorias de suas instalações e equipamentos. Foi o primeiro moinho a fabricar farinha com o uso de cilindros no Brasil. Em 1923, terminadas as reformas no Moinho Fluminense, mesmo operando em capacidade máxima de moagem, a empresa mal consegue dar conta da demanda. Em 1924, o Moinho cria uma seção de vendas e passa a lidar diretamente com os clientes. Até aproximadamente 1924, a farinha de trigo era acondiciona em barricas de 44 quilos, sistema remanescente da época em que o produto era importado de outros países; posteriormente, passou-se a utilizar sacos, mudança que desagradou aos consumidores, dado que as barricas de madeira se prestavam a múltiplas utilidades.

FALECIMENTO DE LEOPOLDO GIANELLI.
Em 20 de novembro de 1927, morre em Paris, Leopoldo Gianelli, fundador e então diretor-presidente da S. A. Moinho Fluminense, após uma intervenção cirúrgica à qual não resistiu. Os seus restos mortais chegaram ao Rio de Janeiro no navio "Andalucia", no dia 22 de Dezembro de 1927. Após o falecimento de D Leopoldo Gianelli, assume a Presidência da empresa um executivo da  multinacional Bunge & Born, se encerrando, portanto, a participação da família Gianelli no posterior desenvolvimento do Moinho Fluminense.

O PRÉDIO DO MOINHO FLUMINENSE É TOMBADO 
O prédio do Moinho Fluminense, de rara beleza arquitetônica, considerado um exemplo clássico de uma bela arquitetura industrial inglesa, foi tombado pela Prefeitura do Rio de Janeiro em 1987.

Fonte da pesquisa: Relatórios Periódicos do  Moinho Fluminense 


                                                    LEOPOLDO GIANELLI
                                               Nasc.:           1864 (Montevideu - Uruguay)
                                               Morte: 20/11/1927 (Paris)